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terça-feira, 1 de dezembro de 2020

A CHINA E OS NOVOS TURGIMÕES

Entre os séculos XVI e XVIII Portugal era dono de, literalmente, metade do mundo conhecido. Em suas navegações, os portugueses iam descobrindo a cada nova viagem, “novos mundos”.  Essa época foi chamada de Expansão, pois expandia o reino de Portugal para terras de além mar.


Na época da Expansão e Descobrimentos Portugueses, surgiram os turgimões. Os criminosos que cometiam crimes “leves”, que poderiam ser variados, tais como crimes contra a religião católica, adultério, pequenos furtos, crime de ofensa verbal contra o rei e os Direitos Régios e vários outros pequenos delitos, poderiam ser - entre outras penas alternativas, degredados.

Porém, eram degredados para lugares ainda não desbravados ou colonizados.

Esses “criminosos” eram chamados de turgimões. Eles eram deixados em terras desconhecidas para ali permanecerem por um, dois ou três anos – ou pela vida toda, caso fosse esquecido ou não encontrado, para que aprendessem a língua e costumes locais.



Após serem resgatados pelos navios português, anos depois de terem sido deixado ali, os que sobreviviam já dominavam a língua nativa e eram levados a Portugal para prestarem contas ao rei, ou seja, para relatar o que viu e viveu naquelas longínquas terras. A partir daí, o turgimão era usado como interprete para as inevitáveis invasões portuguesas.

O termo refere não só o intérprete, com competências comunicativas através do uso de duas ou mais línguas, mas também aquele que fornece aos portugueses informações sobre a geografia, gentes, costumes e riquezas das zonas ‘descobertas’. Em numerosos casos, o processo de descoberta não poderá dar-se por concluído sem essas informações.

Nos dias atuais estamos assistindo – sem que muitos percebam, a um novo tipo de turgimão: o turgimão chinês.

Você já reparou que na sua cidade existe pelo menos uma loja pertencente a um chinês?

A invisível mão do Estado

A china é um país comunista e embora à primeira vista a economia chinesa pareça completamente capitalista, "se você remover a camada mais superficial, poderá ver a mão pesada do Partido". A "mão invisível" do Partido Comunista da China está em todos os aspectos da economia.

As camadas inferiores trabalham de forma mais próxima ao capitalismo, mas o controle é definitivamente mais visível no topo da pirâmide econômica: o Estado determina, por exemplo, o preço do yuan e quem pode comprar a moeda chinesa.

É o Estado que controla quase todas as maiores empresas do país, que administram os recursos naturais. Ele também é oficialmente o proprietário de toda a terra, embora, na prática, as pessoas possam ter propriedades privadas.

E o Estado também controla o sistema bancário, decidindo quem pode tomar empréstimos. Até as empresas privadas chinesas devem passar por inspeções estatais e ter "comitês partidários" que possam influenciar a tomada de decisões.

Em outras palavras, na China o cidadão é totalmente controlado pelo Estado e em tudo tem a invisível, porém impiedosa, mão do Estado.

Então, pensemos...

Se o cidadão é controlado pelo Estado, como pode um simples indivíduo sair da China com 300, 400 ou 500 mil dólares - no mínimo, migrar para um país desconhecido por ele, sem dominar o idioma, sem saber a legislação local, com costumes totalmente diferentes dos seus, sem documentos legais sem que o Estado Chinês tenha permitido ou mesmo previamente arranjados?

Em minha opinião, quando esse cidadão chinês desembarca no país de destino, ele, provavelmente, já tem preparado e a sua espera toda essa burocracia, por meio dos Consulados locais.

Se para os nacionais abrir uma empresa, alugar um imóvel para comércio e para residência, já é moroso e custoso, imagine para um estrangeiro! Lembrando que esse estrangeiro em questão sequer fala o idioma local!

Lembrando que a China, hoje, possui cerca de 1 bilhão e 400 milhões de habitantes, enviar um, dez ou cem mil chineses para outros países e deixa-los lá, como “novos turgimões”, não significa nada em números de seus cidadãos.

A sorrateira invasão chinesa

Você sabia que entre os 17 principais portos do mundo, 8 são da China, além disso, o porto de Shanghai é o maior do mundo desde 2010. E boa parte, tanto das principais exportações, quanto das importações do mundo, sai ou chega na China através de seus portos espalhados pelo mundo.

Isto quer dizer que aquele moderno smartphone que você comprou, além de ter sido fabricado por chineses, tem que passar por algum porto chinês para chegar até você. Assim como o ferro e outras commodities que, depois de ter sido beneficiado na China, também passou por portos chineses para chegar ao seu país.

Imagine isso em termos globais. Estamos, de fato, nas mãos dos chineses.

Devagar e despretensiosamente, a China vai se apoderando do mundo. Atacando aonde dói mais no ocidente capitalista: a economia. A China – na verdade os orientais, são famosos por sua paciência e disciplina. Então, é só uma questão de tempo.

Investigue, leia, informe-se sobre em todas as companhias (privadas ou estatais) que a China comprou nos últimos anos, no seu país. Você, um parente seu ou alguém que conhece já trabalha para os chineses. Isso quer dizer: mais dinheiro e mais poder para a China.

A China, na maioria das vezes, se aproveita da fragilidade de países ditos do “terceiro mundo”, em desenvolvimento, oferecendo dinheiro em troca da sua subordinação e dependência.

Tenhamos como exemplo a África

A China investe – há anos, milhares de bilhões de dólares na África. Escravizando seu povo com seu poder econômico. Um novo tipo de escravidão, tão cruel como no passado.

Os governos, ambiciosos e cegos pelo “vil metal” alheio, entregam-se a tentação do imediatismo. Mas, como eu disse anteriormente e todos sabemos: os orientais são assim: pacientes e disciplinados. Sabem esperar.

Tanto a China como os Estados africanos compartilham da humilhação de terem sido submetidos à dominação europeia e terem lutado contra o colonialismo. Talvez dessa investida econômica da China, faça parte a sua vingança. Afinal, como se diz: “a vingança é um prato que se come frio”.

A atividade econômica da China na África também pode ser constatada nos mais de 720 projetos estratégicos que o país leva adiante em 49 países africanos. A presença de capitais chineses na África pode ser facilmente notada por sua concentração em setores da economia como a extração de matérias-primas, a construção civil e as telecomunicações.



Em várias ocasiões, o capital chinês se associa a empresas locais ou estrangeiras. O petróleo constitui a menina dos olhos e um capítulo à parte. Não é por acaso que os maiores investimentos chineses estão localizados nos três maiores produtores: Sudão, Angola e Nigéria.

Lembre-se de que o petróleo não é empregado apenas como combustível, além disso, ele é uma importante matéria-prima utilizada na fabricação de plásticos, tintas, borrachas sintéticas e alguns outros produtos.

Os chineses não só estão repetindo o modelo neocolonial, mas também estão dotando-o de características ainda mais negativas e agressivas às riquezas naturais e às culturas locais, ao acrescentar a corrupção como um elemento habitual nas negociações e ao não colocar em prática um trade off* entre ajuda e democracia. Também se observa o perigo de um «imperialismo chinês» em que o crescimento e a imersão da China na África possa estar contribuindo para a desindustrialização e o subdesenvolvimento.

Em alguns países africanos houve protestos contra a destruição das nascentes indústrias locais, que não puderam competir com as importações provenientes da China. Os imigrantes chineses ocupam os postos de trabalho dos africanos, em detrimento da mão-de-obra local. Também sustentam que, quando se contrata pessoal africano, as medidas de segurança são baixas e os cuidados com o meio ambiente são nulos. Do mesmo modo, argumentam que os chineses levam adiante sua investida econômica somente nos países que possuem os recursos de que necessitam, e abandonam os demais.

A África é só um exemplo que escolhi, entre outros continentes e países, para fazer-vos pensar. E talvez, você agora entenda um pouco melhor o termo turgimão.



Termino este texto com uma questão que somente o tempo poderá nos responder: existirá limites para as investidas financeiras e o crescimento chinês?

 

*Trade off é um conceito muito importante da economia, ele consiste na escolha de uma opção em detrimento de outra.

 

*Fonte: vozes da minha cabeça.


2 comentários:

  1. Não existem limites para o comunismo capitalista,pois ele engloba todas as características econômicas do capitalismo selvagem (não utilizam ou possuem reservas econômicas de mercados) associado a ditadura do e ideologia do socialismo imperialista ou seja,todos os meios justificam o fim que é o poder. (Money-Mor da bananolândia tupiniquim do sul)

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  2. Perfeita matéria com boa visão holística, desde que o primeiro humanoide deu uma cacetada com um fêmur humanoide na cabeça matando seu semelhante, a maionese azedou pois descobriu que quem pode mais chora menos, antes ele do que eu. Desde que os nossos primos monkeys primitivos tornaram-se oniscientes (formação do ego) o pau tora e cai a foia até os dias de hoje, nada de novo embaixo do sol.
    As civilizações que se extinguiram anteriormente a atual, todas se auto destruíram, o que difere hoje em dia é que ficamos mais sofisticados e matamos nossos semelhantes por controle remoto apertando botões em uma guerra hibrida que vale até morder e puxar os cabelos. (Monkey-Mor da bananolândia tupiniquim do sul).

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