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quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Que patifes, as pessoas honestas!

Abro o jornal de hoje, quarta-feira, 1º de outubro, dia em que escrevo a coluna e me deparo com o título: “Disputa pelo 2º lugar é acirrada, com Dilma isolada na liderança.” “Dilma isolada na liderança”. Como assim? Essa nem assada eu como.

Dilma isolada na liderança. Reli a frase para ter certeza. Mas estava lá. Resolvi olhar a Folha de São Paulo (que também assino). “Dilma mantém vantagem”. Meu Deus. É o fim!

Fechei o jornal, olhei para a tela do computador, o cursor piscando e de repente me chegou, talvez, a explicação que eu tanto buscava. Ficou tudo claro. Cristalino. Transparente.

E a explicação me veio em forma da frase, precisamente a do escritor francês Émile Zola, que li no dia 29 de setembro, dia em que se comemora o aniversário de morte do escritor, que faleceu há 112 anos. A frase é de uma força atemporal: “Que patifes, as pessoas honestas”.

É isso. Como eu não tinha percebido essa verdade que sobreviveu ao tempo?

Tudo se explica nessa frase de cinco palavras. Nunca tão poucas palavras conseguiram explicar 12 anos de governo PT até o momento. E até outras coisitas mais.

Não é preciso nem filosofar. A frase é autoexplicativa. É ler e entender. Nem precisa da tecla SAP.

O povo brasileiro, que tem a visão mais tosca, mais míope, mais estrábica do que seja alguém com uma conduta ilibada, deve achar que, se a pessoa é honesta, não vai prestar. Quem é honesto é patife. Não há outra explicação. O autoflagelo pode ser também outra explicação. Ou pode ajudar a explicar o fenômeno de termos tantos patifes legítimos – que não são os da frase – no poder fazendo o que querem e até o que não querem, mas fazem porque deixam que ele faça.

Infelizmente ainda é assim que tem funcionado.

O povo gosta de se vitimizar. O povo não pensa. Ele só vê o que o político tem para oferecer. Se existe algum benefício, ele esquece todo o resto. Ele não vê o todo. Não existe uma visão global. A visão de que, se o político rouba, um hospital deixa de ser construído, uma escola deixa de ser construída, um trem deixa de ser comprado, uma cidade deixa de ser saneada, uma estrada deixa de ser asfaltada, uma cidade continua sem luz e por aí vai. Não existe memória política do povo. Parece que na época da eleição, os eleitores são possuídos por alguma síndrome ou algum vírus que apaga o HD de cada um e aí… Bem aí você já sabe o que acontece. E para piorar, os políticos sabem disso.

Se acontecesse dessa memória não ser apagada, acho que em duas eleições conseguiríamos limpar um pouco a política.

O povo também não aprendeu que não deve decidir nada por um simples debate entre candidatos. Geralmente, esses debates são embates com acusações, troca de ofensas. O povo não aprendeu a ver que, por mais que um candidato prometa o céu, a terra e o mar para o eleitor, este não tem o poder de sozinho te dar nada do que ele prometeu. O povo deveria avaliar com quem ele anda, quem o apoia, pois todas essas promessas vão depender de muitas outras pessoas. O povo deveria, para votar de forma mais honesta, procurar o que aquele candidato já vez na sua vida política. A grande maioria já tem um passado, investigue o passado. O que deveria importar é o que aquela pessoa já fez. O que irá fazer são outros quinhentos. Ainda mais nos dias de hoje quando se tem a informação no toque dos dedos. Salvo quando alguém do Palácio do Planalto não resolve modificar algumas informações, como foi feito no perfil do Wikipédia de alguns jornalistas. Mas não é um caso comum. É raro.


Então, nos dias de hoje, teríamos todas as condições de fazer uma eleição mais limpa e, com ela, tentar ir limpando o mar de lama que virou o mundo político brasileiro. Mas para isso, teríamos de ter um povo menos preguiçoso, que não se contentasse com alguns mimos em troca de votos. Um povo que dissesse ‘agora basta’ e buscasse o que é melhor. E principalmente, que descobrisse que o patife de verdade, não é honesto. O patife é o patife.


Texto de: Claudio Schamis


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