O Brasil comemora sua posição de sétimo maior PIB do mundo,
mas o PIB per capita rebaixa o país para a 54ª posição no cenário mundial; no
IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) ficamos em 85º lugar. Fingimos ser
ricos, apesar da pobreza.
Nos últimos 20 anos, passamos de 1,66 milhão para 7,04
milhões de matrículas nos cursos superiores, mas quase 40% de nossos
universitários sabem ler e escrever mediocremente, poucos sabem a matemática
necessária para um bom curso nas áreas de ciências ou engenharia, raros são
capazes de ler e falar outro idioma além do português. Fingimos ser possível
dar um salto à universidade sem passar pela educação de base.
Comemoramos ter passado de 36 milhões, em 1994, para 50
milhões de matriculados na educação básica, em 2014, sem dar atenção ao fato de
termos 13 milhões de adultos prisioneiros do analfabetismo; 54,5 milhões de
brasileiros com mais de 25 anos não terminaram o Ensino Fundamental e 70
milhões não terminaram o Ensino Médio. Fingimos que os matriculados estão
estudando, quando sabemos que passam meses sem aulas por causa de paralisações
ou falta de professores.
A partir de 1995, no Distrito Federal e em Campinas,
iniciamos um programa que serve de exemplo ao mundo inteiro, atualmente chamado
de Bolsa Família e que transfere por mês, em média, R$ 167 por pessoa pobre, o
que lhe assegura R$ 5,67 por dia, valor insuficiente para aliviar suas
necessidades mais essenciais. E fingimos que, com esta transferência, estamos
erradicando a pobreza que é caracterizada efetivamente pela falta de acesso aos
bens e serviços essenciais que não estamos oferecendo. Fingimos ter 94,9
milhões na classe média, sabendo que a renda média mensal per capita dessas
pessoas está entre R$ 291 e R$ 1.019, quantia insuficiente para uma vida
cômoda, especialmente em um país que não oferece educação e saúde públicas de
qualidade.
Comemoramos o aumento da frota de automóveis de,
aproximadamente, 18 milhões, em 1994, para 64,8 milhões, em 2014, fingindo que
isto é progresso, mesmo que signifique engarrafamentos monumentais.
Comemoramos, corretamente, termos desfeito uma ditadura,
esquecendo que a democracia está sem partidos e a política se transformou em
sinônimo de corrupção. Fingimos ter uma democracia com liberdade de imprensa
escrita em um país onde poucos são capazes de ler um texto de jornal.
Assistimos a 56 mil mortos pela violência ao ano, e fingimos ser um país
pacífico, sem uma guerra civil em marcha.
Fingimos ser um país com ambição de grandeza, mas nos
contentamos com tão pouco que os governantes se recusam a ouvir críticas sobre
a ineficiência dos serviços públicos. Preferem um otimismo ufanista, comparando
com o passado que já foi pior, e denunciam como antipatriotas aqueles que
ambicionam mais e criticam as prioridades definidas e a incompetência como elas
são executadas. Antipatriota é achar que o Brasil não tem como ir além, é
acreditar nos fingimentos.
Texto de Cristovam Buarque, que é Senador da República.
Está como na Argentina, manipulação de dados para enganar os menos informados, que são quem os elegem.
ResponderExcluirPerfeito Josuel, é isso mesmo.
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