Por
Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT
Caríssimos católicos!
Hoje, comento o recorte do vídeo mais perverso que já vi na
rede. Seu título: “Como emburrecer alunos seguindo técnica de Antônio Gramsci”.
Embora esse material circule no Youtube há algum tempo, só
agora o conheci. Durante uma aula, depois que comentei uma citação sobre
Gramsci, um acadêmico lembrou-se de ter visto esse vídeo. Como o seu conteúdo
não conferia com o que eu expusera, pediu-me licença para me enviar o material.
Eis a análise que faço.
O cenário é um auditório. Na cena, duas personagens: uma
estátua de N. Sra. e um padre de batina (PB). Mesmo muda, a estátua – um signo
não-verbal – confere Discurso de Autoridade ao PB.
Por conta de indicações no discurso verbal e dos risos
provocados pelo PB, percebe-se que, no local, há seminaristas em curso de
formação.
O PB – que tem razoáveis técnicas de oratória, mas peca no
conteúdo – trata da formação (conservadora ou “revolucionária”) dos
seminaristas.
Na essência, o PB se opõe – embora sem consciência teórica
correta – às práticas da pós-modernidade; por isso, há fragmentos expostos por
ele com os quais não divirjo.
O PB afirma, p. ex., que caminhamos para a “lenta
imbecilização de uma nação”; que “nas universidades já há analfabetos”.
Todavia, o PB peca – mentindo sem pejo – quando identifica
os pensadores Marx e Gramsci como responsáveis por esse panorama.
Em alguns momentos, o PB diz que o ensino está destruído,
pois “os professores, ao invés de ensinar suas matérias, ficam impondo as
cartilhas marxistas”.
Antes fosse!
Para o PB, “Marx e Gramsci são anti-intelectualistas; não
querem que os alunos aprendam nada”.
Mentira.
Marx e Gramsci escreveram e lutaram para que os trabalhadores
tivessem os mesmos direitos reservados aos das elites.
Em particular, Gramsci acreditava que a tomada do poder só
se daria se fosse precedida por mudanças de mentalidade; e os principais
agentes dessas mudanças seriam os intelectuais e a escola. Esta deveria
provocar a elevação cultural das massas: livrá-las de preconceitos e tabus. Uma
vez elevadas, as massas poderiam disputar a hegemonia do poder.
Mas como elevá-las culturalmente?
Para Gramsci, só oferecendo os códigos da classe dominante a
todos os trabalhadores: “ler e escrever (na língua padrão), fazer contas,
conhecer os conceitos científicos, além de seus direitos e deveres de cidadão”.
Contrapondo-se à reforma de Mussolini, que reservava aos
alunos das classes altas o ensino tradicional, “completo”, e aos pobres uma
escola para a mera formação profissional (se fosse hoje, do tipo Senai/SESI),
Gramsci defendeu a manutenção de “uma escola única inicial de cultura geral,
humanista, formativa”.
Gramsci acreditava que só esse tipo de formação
possibilitaria a percepção da cidadania. Essa visão de mundo substituiria o
“senso comum”, ou seja, “conceitos desagregados, vindos de fora e impregnados
de equívocos fomentados pela religião e pelo folclore”.
Eis um dos motivos do ódio de muita gente contra
ensinamentos marxistas/gramscianos, que, na essência, só querem igualdade
social.
Que pecado há nisso?
Nenhum.
O pecado reside na cabeça maldosa de um “enviado de Deus”
vestido de batina preta.
Sem vergonha, descumprindo o 8º mandamento (“Não dirás falso
testemunho nem mentirás”), ele mente perante os seminaristas. Esquece que “Quem
mente se engana a si mesmo e ilude os outros, os quais têm o direito a conhecer
a verdade integral de um fato” (in: site da Canção Nova).
Sem receios, na cara dura, a criatura ainda encara a câmera
que o filma. Sua figura é asquerosa; é nociva.
Veja o vídeo em questão:
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