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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Monólogo Perante Deus

Edson Valadares na plenitude dos seus 91 anos


Acredita a cega e tola humanidade
Que sois incorpórea entidade,
Onisciente, Onipotente e Onipresente;
Espírito perfeito – inteligente.

Acredita, ainda, que vós, sozinho,
Sois Criador deste infinito “ninho”
A que chamamos de Universo,
Usando como instrumento apenas o vosso verbo.

Pensa que sois fonte de amor e de bondade;
Como é insensata esta vã humanidade!
Crê, ainda, que sois generoso e causa do bem,
Porém eu acredito que sois mau também.

As escrituras dizem que sois meu Pai,
Mas por que não dizeis ao filho aonde vai?
Vivo envolto nas brumas da ignorância,
Num mundo violento e sem esperança!

Aflito, vos pergunto: por que criastes a humanidade?
Dizei-me, respondei-me por vossa piedade!
Oh Deus! Por que não me respondeis?
Por que no anonimato vos escondeis?

Eu digo que sois mau, perverso,
E que vossas leis nos ameaçam com o inferno.
Pergunto: por que guardais vossa origem com mistério?
E nos condenais a morrer e morar num cemitério?

Pouso meu espírito austero
Lá no alto, nos píncaros do Etéreo,
E observo as maldades que fizestes:
Terremotos, vulcões, incêndios, a peste!

Oh Deus! Se de fato existirdes, sois malvado.
Incutistes na mente humana a ideia do pecado
E enviastes vosso filho Jesus para aqui nascer
E salvar do inferno nossas almas. Por quê?

Sois orgulhoso por quererdes ser adorado
E exigirdes dos homens ser amado,
Oferecendo vosso céu apenas aos afortunados
E entregando os descrentes, como eu, ao Diabo.

Compreendo que vós, Deus, construís,
Mas, no passar do tempo, a tudo destruís.
Até o homem, vosso filho, não amais.
Porque vós, o Pai algoz, também o matais.

Há rumores de vossa morte nas trevas dos anos,
Deixando-nos aqui sozinhos, em desenganos,
Navegando como loucos nesta nave espacial,
Vivendo a eterna luta do bem contra o mal.

O homem, pela fé – essa crença irracional e cega –,
Ignorante do eterno mistério que o cerca,
Crê que vós existis, Deus,
Porém, por vossa culpa, eu juro: sou ateu!

Ilhéus, 10/08/1998



Poema de Edson Almeida Valadares
Poeta Sergipano.

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