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terça-feira, 2 de setembro de 2014

Velhos Jovens

Estava eu aqui pensando...
Quando eu tinha vinte e bem poucos anos de idade, tinha muitos amigos. Ou pensava que tinha muitos amigos.
Fazíamos coisas típicas de jovens dessa idade: íamos as festas, bebíamos, namorávamos. Os que tinham carro, andavam em alta velocidade, davam “cavalo de pau”, faziam cantar os pneus, e não respeitavam a maioria das regras de trânsito. Empinavam e tiravam “racha” com suas CB 750 Four, suas 500 Four, suas RDs 350, suas TTs, XLs, DTs, Turunas, MLs, com escapamento aberto, do tipo “kadron”, claro. Mesmo antes de completar 18 anos, e ter a tão sonhada habilitação, muitos de nós já tínhamos moto ou carro. Ou, no mínimo, usávamos os carros dos pais. Isso, claro, porque eu fazia parte de uma classe média, no sentido financeiro, e a maioria dos meus amigos tinha a possibilidade de ter ou usar veículos próprios.
Mas, voltando ao que me fez escrever este texto, nós, como jovens que éramos, fazíamos tudo como se não houvesse amanhã. Medo era uma coisa que não fazia parte da nossa vida. Arriscávamos nossas vidas e a vidas de terceiros por tudo e por nada. Sem medir nenhuma consequência.
Cruzávamos sinais fechados, não respeitávamos mão de direção das ruas nem cruzamentos. Fugir dos policiais era nosso “esporte” favorito. A adrenalina (coisa que nem sabíamos o que era!) subia às alturas. Era muito bom, porém, muitos não sobreviveram a estas “aventuras” diárias.
Fazíamos coisas impensadas para os dias de hoje, coisas de fariam arrepiar os cabelos dos nossos filhos!
Naquela época estávamos preocupados, alguns, em estudar, outros em “curtir” a vida. Outros poucos, em fazer as duas coisas.
Ninguém, da nossa idade, se preocupava com o próximo. Às vezes, nem mesmo com os muito próximos, como os integrantes da nossa família: pai, mãe, irmãos e irmãs, tios, etc.
Queríamos mesmo era viver a vida sem nos preocupar com a vida dos outros. Quase irresponsavelmente.
Nossos pais, incansavelmente, nos avisavam dos perigos das ruas, das festas, das drogas, do álcool. Nós não dávamos ouvidos, tínhamos outras “preocupações”.
Religião? Deus? Assistir a missas (assistir de verdade, não só ir à Igreja aos domingos de manhã para paquerar ou mostrar a roupa nova)? Bah! Isso era coisa de velho! Jovem, era outro papo...
Sorrindo, hoje, depois de tantos anos, vejo muitos desses mesmos amigos, que ora desdenhavam dos conselhos dos pais, dos perigos das ruas, dos malefícios do álcool e das drogas, criticando os jovens de hoje, que empinam motos, que usam, ou fazem apologia às drogas (em especial a cannabis sativa), que se arriscam – e arriscam a vida de outros no trânsito. Jovens que bebem, que ouvem música no mais alto volume, que escuta um som que, na sua ótica, é “desprezível”... entre muitas outras críticas, julgamentos e condenações.
Vejo esses “antigos jovens” clamando a Deus, a Santos, ao politicamente correto.
Ah... se esses antigos jovens se lembrassem de que, um dia, ha não muito tempo, faziam coisas iguais, ou piores que os jovens dos dias de hoje. Talvez tudo fosse diferente; haveria diálogo, entendimento e tolerância entre os diferentes. Diferentes esses que, na verdade, sempre foram iguais, só esquecem disso.
Claro, a idade traz aprendizado, mas, é justamente disso que estou falando: aprendizado.
Deveríamos aprender, com o tempo, a lidar com as diferenças, com a diversidade. Mas não, continuamos com nossas toscas e antiquadas convenções.
Como diz a música: “...Hoje eu sei que quem me deu a ideia de uma nova consciência e juventude tá em casa, guardado por Deus, contando o vil metal.”.

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