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quarta-feira, 26 de maio de 2010

...E O HOMEM CRIOU DEUS À SUA IMAGEM.

Primeiro, alguns pontos em comum entre as principais religiões:
Um. A beleza de uma flor, a complexidade do universo, não devem ser obras do acaso. deus, ou uma Mente Inteligente é a responsável pela criação do mundo e da vida.
Dois. deus se revelou a alguns profetas no passado.
Três. Esses homens escreveram livros, orientados pela Divindade.
Quatro. Esses livros contêm leis de deus. E instruem como agir para ser merecedor da recompensa no pós-morte.
Cinco. A minha religião é a verdadeira. Os de outros credos, foram enganados. Para conseguir a salvação, eles devem se converter à minha religião.

Minha primeira pergunta: Como ter certeza de qual religião é a verdadeira? Como saber em qual religião deus se revelou de verdade? Para responder a essa questão, devemos investigar quando surgiu a idéia de que deus conversava com os humanos na terra. E por quê?

Imagine um grupo humano primitivo, rodeado de superstições e sem conhecimento dos fenômenos naturais. Nossos ancestrais acreditavam que raios, trovões e enchentes eram obras de Seres Invisíveis. O mais velho ou mais esperto do bando, convenceu-os facilmente de que para aplacar a fúria desse “deuses”, era necessário louvá-los, através de cânticos, rezas e presentes. Quando a tempestade ou as cheias cessavam, nosso irmão ancestral pensava: “os deuses ouviram nossas preces”.
Pronto. A necessidade de proteção e sucesso, levou o homem primitivo a imaginar que os deuses requeriam deles alguma coisa em troca. Quando a peste e as doenças se instalavam entre eles, admitiam: “esquecemos dos sacrificios e dos presentes, por isso, fomos castigados.”
Esse pensamento grudará na mente da humanidade, de geração em geração. Mesmo hoje, a maioria ainda acredita que é assim que funciona. Uma mentira repetida com insistência, por muito tempo, acaba sendo alçada à categoria de verdade inquestionável.
Então, em qual religião deus se revelou? Um pouco mais de suspense. Antes do advento das modernas religiões, essas que comandam o mundo de hoje, começavam a ser plantadas na antiga Mesopotâmia, as sementes que germinariam, e dariam forma às idéias religiosas que se espalharam entre as três religiões monoteístas: judaísmo, cristianismo e islamismo.
Através de tabletas de barro, hoje guardadas em museus, ficamos sabendo que os sumérios acreditavam em deuses com formas humanas e imortais. No poema épico babilônico de  Enuma Elish, é revelado a criação do mundo pelo deus Marduque, que teve auxílio de deuses menores. Sabemos que este deus, não fez o mundo de uma tacada só; primeiro fez a luz, em seguida vieram o céu, a Terra, e no final, deu vida ao ser humano. Completada a dura tarefa, os deuses foram festejar.
Hoje sabemos que isso faz parte da mitologia. Os antigos precisavam de uma explicação para as coisas primeiras, e o mito os ajudava a entender o processo da vida.
Também na Suméria, os deuses começaram a se preocupar com o comportamento do povo. O “Pai dos códigos”, criado há cerca de 3 mil anos a.C., foi escrito por um rei, mas com o auxilio de Shamash, um deus muito importante. Da Babilônia, no séc. 18 a.C., vem o “Código de Hamurabi”, e esse rei informou seus súditos que as leis foram transmitidas pelos deuses. A lei do talião, “olho por olho, dente por dente”, fazia parte desse código.
Claro que nenhum deus soprou uma legislação pronta nos ouvidos desses monarcas. Os reis sabiam que o povo, inculto e supersticioso, obedeceria melhor  as leis, se elas fossem proclamadas por um deus. Essa idéia pegou tão bem, que os reis começaram a se proclamar os intérpretes dos deuses. De fato, na antiguidade, reis eram considerados filhos dos deuses, ou em certos casos, o próprio deus vivo na terra.
No Egito, a farra dos deuses era tremenda, que existiam milhares deles. Os sacerdotes começaram a enriquecer à custas da fraqueza do povo, que lhes trazia presentes e alimentos, achando que eram para os deuses.  Os padres inventaram uma ótima forma de manter o povo dócil e obediente: para ser recebido no céu, pelo deus Osíris, o devoto devia agir conforme a palavra da classe sacerdotal. Do contrário, ao morrer, seria posto num lugar terrível, e devorado por um deus monstruoso. Hoje, paga-se dizimo e outras oferendas para ter acesso às delícias do céu.
Ainda no Egito, séc. 14 a.C., aparece o faraó Akenaton, que acaba com a proliferação de deuses em sua terra e adota Aton, como único deus de seu povo. Akenaton era pacifico, odiava superstições, amava as artes e a natureza, recusava assuntos bélicos. Detestava o enriquecimento dos padres idólatras. Ele amava os animais. Aton era assim também. Já nos disseram os sábios, que a personalidade de um deus, sempre se parece com o profeta que o descobre.
Mas Akenaton ficou pouco tempo no poder. Traído, foi morto e os antigos deuses voltaram a dominar as terras das pirâmides. Então, um século depois, surge o grande profeta Moisés, que fundaria nova religião monoteísta – o judaísmo, com um deus apenas.
Para criar a nova religião, Moisés se baseou sobretudo em dois nomes: Hamurabi, para formular suas leis. E Akenaton, de quem pegou a idéia de um deus único.
De Hamurabi, Moisés copiou a lei do talião: olho por olho, dente por dente. Todo crime era vingado. Outras leis que Moisés entregou aos hebreus, e que fazem parte do Antigo Testamento:
Levitico 24,10: Javé (o deus de Moisés) manda apedrejar até a morte quem fala mal dele.
Números 25,1: Javé manda, empalar (enfiar uma estaca no ânus) quem adora outros deuses. Javé era um deus ciumento, e isso ele repetia com freqüência.
Deuteronômio 13,6: Javé manda o hebreu matar até seu pai, esposo, esposa, filho, qualquer parente, se um deles vier a ele e lhe chamar para adorar outros deuses.
Deuteronômio 21,18: Javé manda que o pai mate o próprio filho, se este chegar bêbado em casa  ou for rebelde.
Deuteronômio 25,11: Se uma mulher ao defender o marido numa briga com outro homem, segurar o pênis do rival do marido, Javé manda que a mulher tenha a mão decepada.
Deuteronômio 28, 15: Javé recita uma longa lista de punições ao povo se não obedecer suas leis. Javé promete lançar a peste, doenças, arrasar as terras de seu povo. Cobri-lo de úlceras.
Ao longo do Antigo Testamento, conhecemos histórias onde “deus” aparece ordenando saques e chacinas. Manda o exército de Moisés matar as tribos inimigas, mas que se preservem as virgens, para serem usadas pelos soldados.
Claro que isso choca o observador da Bíblia, mas acontece que isso não lhe é revelado nos cultos e missas.
Tal qual um produto que precisa de uma nova propaganda, para atrair novos consumidores, a Bíblia precisou ser revista. E hoje, retiram-se dela ou tentam manter sob cobertas, as passagens que não interessam à Igreja atual.
A Bíblia – Antigo Testamento - foi escrita sobretudo para propagar que a nação judaica era a escolhida de deus. O Novo Testamento – não aceito pelo judaísmo – é uma revisão da antiga religião, moldado para convencer que o cristianismo é a religião verdadeira.
Moisés convenceu seu povo que fora visitado por deus no Sinai. Moisés convenceu os hebreus, que eles eram o povo escolhido de deus, e que serviriam de exemplo para todas as nações. O mesmo pensamento dos antigos povos. O egípcio já se considerava o povo eleito das divindades. Sumérios e babilônicos também. Moisés convenceu o povo que havia um único deus, assim como Akenaton já havia pronunciado um século antes.

Século 1 da era atual. Os discípulos de Jesus, após sua morte, continuam a divulgar seus ensinamentos. O império romano, abastecido de tantos deuses, mandava matar todo seguidor daquela seita, que adorava um homem, que era humano e deus ao mesmo tempo.
O cristianismo passa a ser tolerado pelos romanos, quando o imperador Constantino se converte à nova religião. Mas ele não estava interessado no discurso do galileu, onde eram destaque o amor, a caridade e o perdão. Seu interesse era político. Em seu reinado, muitos dogmas – verdades que não podem ser questionadas – foram criados.
Não era mais importante a fala de Jesus, e sim, a obediência cega aos ditames dos chefes da Igreja. "Credo quia absurdum" (Acredito mesmo que seja absurdo), frase do apologista cristão  Tertuliano ( 155-220 dC. ) virou referência aos defensores dos dogmas cristãos. E o que era “absurdo”? Acreditar que deus, sendo sábio e amoroso, pudesse trancar alguém por toda a eternidade numa prisão de sofrimento. Acreditar que para ser merecedor do céu, devia-se aceitar um livro que continha leis do tipo: matem os infiéis, matem noivas não virgens, matem o filho desobediente, matem quem diz que a terra é redonda...
Os padres diziam que fora da Igreja católica, não havia salvação. Idéia extraída das antigas tradições. Sempre foi assim, e ainda é hoje.
O catolicismo foi durante longos séculos, a religião sem concorrência. Inspirados na Bíblia, o Vaticano realizou as Cruzadas. Mandou matar todos os que não se convertessem à “religião verdadeira”. Inspirado na Bíblia, criou a Santa Inquisição. Mais perseguição e mortes. Era obrigado a aceitar a palavra da classe sacerdotal. Duvidou de Adão e Eva: tortura e forca. A terra não é o centro do mundo? Tortura e fogueira. Não paga indulgência ao papa? Inferno na certa.
Hoje, o Vaticano está mais contido. Não se joga mais bruxas à fogueira. Nem cientistas correm o risco de tortura. Só a psicológica. Mas o papa ainda diz que a única religião correta é a dele. E embaralha a mente dos devotos com proibições de toda a natureza. Com isso, arregimenta milhões de clientes para salas de psicanalistas. E o líder de sotaina assevera: obedeçam a Igreja católica ou inferno.  O judaísmo discorda.  Islâmicos também. Para eles, castigo é para os que não aceitam as suas religiões.
Na verdade, nessas três religiões, há também fundamentos de amor ao próximo e caridade. Talvez você possa objetar e dizer que o próximo é quem faz parte da congregação; os de outras religiões e os infiéis não merecem nem um pingo de atenção, ao contrário, devem ser rapidamente convertidos ou eliminados.
No entanto, essas três religiões já forneceram grandes nomes, que de fato estavam preocupados com o sofrimento da humanidade e o terror causado por idéias dogmáticas. Nessas religiões, hoje encontramos pessoas que constroem hospitais, se engajam em trabalhos comunitários, religiosos que não estão nem aí para dogmas, mas que seguem apenas o essencial: amor ao próximo.

Mas, por que então, uma parte se digladia, guerreia e se mata, em nome de deus?

Por que a idéia que norteia o pensamento religioso deles é igual ao do homem pré-histórico: deus é um juiz, que trata bem só os que o bajulam, e o adoram. Como se deus fosse um ser deprimido, e inseguro, tal qual um pai tirano que exige dos filhos afagos e presentes, para não cair em desgosto. Do contrário, vem com a cinta espancar seus traseiros.

O mundo quer paz, quer viver bem. deus é uma necessidade para a maioria. Conforta e traz esperança. Às vezes, torna as pessoas melhores. É assim que deus deveria ser visto por quem crê nele.  Já disseram que muitos seriam extremamente perigosos e maus, sem a visão da recompensa de um céu. Mas é verdade que outro tanto, procura ser ético e fazer o bem, mesmo sem acreditar numa divindade. Ou desconfiar que ela exista. Portanto, para ser bom, não precisamos de uma assinatura divina. O bom senso e a razão nos ensina o que é melhor para nós e os outros.
Mas deus escrevendo leis que autorizam matança, e ódio aos diferentes,  criando uma prisão para trancar os que não lhe dão atenção, dando leis de moral e sexualidade, que só fazem sofrer os seres humanos...seria isso deus mesmo?





Ou um deus assim é apenas um reflexo da mente humana, que o criou?



3 comentários:

  1. O sofrimento,as angústias, as ansiedades, a insegurança, as dores levaram os ser humano a imaginar a existência de um ser supremo a que chamou "deus".
    Pergunta: Os irracionais carregam esses sentimentos? Parece-me que seria melhor sermos como os irracionais.

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  2. Muy bueno el artículo.
    Sobre esto, desde un punto de vista racional y un poco irónico, te invito a leer lo que escribí en mi blog:

    http://situacionismo.blogspot.com/search/label/Dios

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  3. O perigo que a ignorância faz correr ao saber, que o mal faz correr à virtude, mas este perigo não é senão aparente, pois, na realidade, é o justo que triunfa dos seus carrascos.

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