Quando falam em AMOR, sempre o citam com uma certa (normalmente grande) dose de emoção. Claro. Amor e emoção são como irmãos siameses: inseparáveis naturalmente, separáveis arduamente. Dizem que "amor não se compra". Eu não concordo... e em vários sentidos. Se você quer um amor verdadeiro, fiel e que se doe completamente à você, dê uma passadinha num Pet Shop e escolha o seu. Lá você encontra vários "tipos" de amor. Grande, pequeno, peludo, penado, dentuço, banguela, com rabo, sem rabo... enfim, tem pra todo gosto.
Você pode também encontrar seu amor em lugares como a PEA, onde você pode adotar seu amor.
Claro que estou falando do amor incondicional dos bichos. Daquele que nós, antiquados seres humanos, chamamos de "irracionais", aquele que não raciocina. Será mesmo? Tenho minhas dúvidas quanto a este ponto.
Racional ou irracional, todos temos que ter um amor. Um bicho que esteja sempre conosco, ao nosso lado, junto com a gente.
Um ser humano sem um bicho ao seu lado não é completo. Não sabe o que é ter um verdadeiro amor. Está morto, e não sabe.
O amor de um animal de estimaçao é como a vida. É pra toda vida. Sua ou dele.
E, como já disse o Vinicius: "Que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure", sendo assim: cuide do seu amor, pela vida toda. Sua ou dele.
Quem escolhe o amor de um bicho sente-se completo, sente-se vivo. Sente que dá vida e a recebe. É uma via de duas mãos. Ou patas!
Sempre gostei de bichos. Já tive vários e por vários motivos fui separado deles. Infelizmente. Isso porque não somos nós que conduzimos a vida, mas sim a vida que nos conduz.
Hoje tenho meu animalzinho de estimação. Um pouco digamos... "diferente". Exótico. Tenho um macaco. Mas não "um macaco", tenho o Francisco. Xico, pros íntimos.
O Xico é um Callithrix jacchus, ou simplesmente um Sagui-de-tufos-brancos. Um Sagui. Um Mico.
O Xico chegou na minha vida - na nossa vida - há pouco mais de três anos. Chegou bebê ainda. Quase sem tufos...
Foi-me doado por um amigo que não tinha condições de criá-lo. A mãe do Xico provavelmente foi morta por traficantes de animais para poderem pegá-lo! E ele foi parar no Ibama. Como o Ibama também sofre por falta de recursos não pôde ficar com ele e, assim, ele me foi oferecido como "fiel depositário". Isso mesmo, como um bem, um objeto qualquer que você é obrigado a cuidar.
Fiel depositário... humpf! Na prática, o Xico é que é meu "fiel depositário"! Estou nas mãos dele! Preso nos seus polegares opositores! Preso no seu olhar. Preso nos cafunés que recebo, quando ele quer dar.
Antes de ter o Xico - ou ele me ter, eu via algumas pessoas que levavam seus animais pra passear de carro, pra dormir na própria cama, que dava beijo na boca, que tratava seus animaizinhos como um deus! Uma divindade. Eu não entendia, não aceitava e criticava.
Hoje, sou um abobalhado como eles.
Não ensinei nada, ou quase nada ao Xico. Ele já veio pronto. A natureza o fez pronto. Pronto ao ponto de me ensinar muitas coisas. Me ensinar a respeitar os limites do outro, me ensinar a ser tolerante. O Xico me ensinou a amar. Amar de verdade. Me ensinou a ser amado.
Minha vida se divide em duas: antes e depois do Xico. E neste "depois do Xico" foi que descobri que estava vivo. Antes não sabia.
Mas um dia tivemos uma surpresa. Uma surpresa linda. Mais um ensinamento do Xico. Um dia chegou a Liloca.
A Liloca, outro Callithrix jacchus, apareceu aqui em casa fugida, sabe-se lá de onde! Magra, suja, arisca, apavorada! Parecia pedir socorro. E pedia mesmo! Demos um nome à ela: Lilica. Mas diante das "loucuras" que ela aprontava, mudamos para Liloca, de "loca" mesmo.
No começo ficamos todos com medo. Medo da responsabilidade de mais um "amor". Mas ela, aos poucos, nos conquistou. E, aos poucos, nós a conquistamos.
Foi aí que o Xico nos ensinou mais uma lição: o amor não tem dimensão. Não pode ser mensurado. Não pode ser medido. Não pode ser exclusivo. O amor deve, sim, ser dividido, compartilhado, somado. Ele ama a Liloca, assim como nós a amamos. Assim como nós os amamos. Sem mais nem menos.
O Xico é "chipado", registrado no Ibama, toma vacinas, remédios e consulta o veterinário regularmente. A Liloca não. Ainda não. A Liloca chegou há apenas cinco meses, mas já faz parte da família. Já é "uma de nós".
Liloca, a esquerda na foto. Xico, a direita. |
Ela é livre, solta, vai e vem quando quer, a hora que quer. Mas ela nunca "foi". Nem o Xico. Sabem que aqui eles tem carinho, segurança e amor. E muita comida fácil também, claro.
Acredite: dormem no meu quarto! Eles tem a casinha deles no alto da parede. Dormem agarradinhos. Como dois amantes devem fazer. Todos os dias, às 18 horas, eles sobem pro seu "ninho". Brincam um pouco. Se coçam um pouco. Se "beijam" um pouco e dormem. A noite toda, até os primeiros raios de sol darem o ar da graça. Mas se você acha que eles saem correndo da cama pra saírem "por aí", está enganado: ficam ainda alguns minutos, às vezes algumas horas, se abraçando, se coçando, se espreguiçando, se amando, pra depois irem curtir a vida. Aproveitar o dia. Brincam, comem, se coçam, catam "piolho" um no outro, brincam conosco, conversam conosco (isso mesmo: eles conversam conosco! E nós nos entendemos.), para, novamente, às 18 horas começarem tudo de novo.
Pareço estar brincando? Exagerando? Estou e não estou.
Estou porque tento descrever minha paixão com alguma graça, mas também não estou, porque minha paixão não é fictícia, ela é real! E só sabe disso quem tem um amor como o meu. Um não, dois! Desses meus amores sei o que esperar e o que não esperar. Neles sei que posso confiar. Deles sei que recebo o verdadeiro e puro amor.
Você acha pouco? Eu também. E torço pra que venham aí uns "netinhos", filhos do Xico e da Liloca.
Aí, meu amigo, será uma explosão de amor. Um Big-Bang de emoções.
Agora, e se você já não tem um amor de verdade, se você está morto e não sabe, encontre o seu. Rapidamente. A vida não espera. A vida não nos permite ficar "pensando" muito.
Faça como eu, que hoje me sinto aliviado por saber que sou "gente", que sou um ser humano.
Você que não tem um gato, um cachorro, um peixe, nem uma iguana, uma tartaruga, um hamster ou mesmo um Callithrix jacchus, você, meu caro, está morto e não sabe.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir06/07/2013: meu Xico faleceu. Libertou-se desse mundo dos homens.
ResponderExcluir"A morte não significa nada para nós: quando somos, a morte ainda não chegou e quando ela chega, não somos mais." - Epicuro
ResponderExcluirFaz tempo que você não posta nada, quase 3 anos.
ResponderExcluirVocê não tem mais um amor incondicional?
Vou partilhar a sua história, porque as pessoas precisam cada vez mais de inspiração.
Um abraço.
Olá Cozinha&Cia. Meu Xico faleceu. Libertou-se desse mundo dos homens. Eu mudei de país, muitas coisas mudaram. Mas, aos poucos, estou voltando. Obrigado.
Excluir