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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

FIM, O FIM

 O FIM


Todos sabiam que algum governo – ou governante, estava pronto para acionar, detonar, uma bomba atômica que teria o poder de aniquilar toda a humanidade e toda vida do planeta Terra. Só não sabíamos quando isso aconteceria, mas sabíamos que seria em breve.

Em verdade e em sigilo mental todos tinham a esperança e quase certeza de que ninguém no mundo seria capaz de tal ato. 

A cidade seguia seu ritmo. A maioria das pessoas sequer se lembrava desta possibilidade. Como tantas outras coisas alardeadas nos últimos tempos, essa talvez fosse só mais uma especulação ou, como está em voga se dizer, mais uma fake news.

As pessoas caminhavam pelas calçadas, apressadas como sempre, rumo ao trabalho ou ao restaurante mais próximo, pois era perto da hora do almoço.

Eu andava devagar. Afinal, não estava trabalhando na altura e não tinha compromisso algum. Meu ar de despreocupado podia enganar a quem me observasse, mas dentro da minha cabeça não saia a ideia de tudo terminar. O pensamento de uma explosão atômica e suas consequências dominavam meus pensamentos. Na verdade, eu parecia ser a única pessoa naquela cidade que se lembrava disso.

Eu caminhava pela calçada e do outro lado da rua, depois dos carros que passavam por ela a toda velocidade, havia uma praça com muitas árvores, bancos de jardim e flores de variadas espécies e alguns pequenos animais e aves. Algumas pessoas transitavam pela praça, pelos caminhos em terra. Provavelmente feitos assim propositalmente para transparecer um ambiente rural, ou rústico.

Eu estava há poucos metros da esquina, ainda decidindo se aproveitava o sinal vermelho para passar para o outro lado da rua e caminhar um pouco pela praça. Foi quando institivamente, olhei a frente. Olhei para aonde a rua – sempre muito movimentada e sob a minha vista, terminava.

Escutei um estrondo abafado, como o de uma explosão controlada. Levantei a cabeça - meu olhar, e pude ver no céu uma forma esférica, com o centro escuro o qual ia clareando conforme chegava-se as bordas. Algo que fazia lembrar um girassol, porém com cores bem mais sombrias.

Esta forma esférica já estava lá havia alguns segundos, pois como todos sabemos, a velocidade da luz é muito superior à velocidade do som. Apenas ninguém havia percebido ou dado importância sua presença.

O núcleo dessa forma começava cinzento e ia, aos poucos, ficando mais escuro – quase preto. Depois abria-se em forma de raios, à medida que ia clareando ao ponto de que nas extremidades desses raios, ia ficando amarelado. Era uma imagem opaca, sem muita nitidez.

Todos na rua, nos carros, no comercio, na praça pararam – estáticos, para tentar entender o que estava acontecendo. Mesmo que já soubessem, estavam incrédulos. Seria mesmo possível “alguém” ser capaz de acabar com a humanidade?

Seguiu-se uma correria alucinada, para todos os lados. As pessoas pareciam não saber ao certo para qual lado ir. Estavam desnorteadas e apavoradas com o que viam no céu. Algumas ficaram estáticas, como tentando entender ou acreditar no que via.

Carros foram abandonados nas ruas com as portas abertas, sem motoristas ou passageiros no seu interior. Tudo parou e ao mesmo tempo, fez-se o caos. Ninguém mais tinha pressa para chegar ao trabalho ou para almoçar. Apenas fugiam de algo que desconheciam, ou não queriam acreditar que tal acontecimento fosse possível e chegara.

Eu, depois de alguns minutos parado a observar aquela hipnotizante esfera colorida, corri – como todos, para “qualquer lado”. Quando percebi, estava numa avenida larga, com várias faixas de rolamento.

Alguém, atras de mim, gritou: - O que é isso?

Eu, com o corpo ainda voltado para frente, parei por um instante apenas para volver a cabeça para trás e perceber que se tratava de um homem de meia idade, nem gordo nem magro, com um bigode bem tratado, roupas boas, porém simples; calça e camisa de manga comprida, ambos em tons beges. Me limitei somente a responder: é a bomba!

Respondi com uma tranquilidade e certeza como se soubesse que isso iria acontecer naquele dia e naquele momento. 

Imediatamente voltei a correr na direção onde, a minha frente, estava um viaduto, na inocente e inútil esperança de me salvar. No fundo eu sabia de que nada adiantaria.

Antes mesmo de chegar embaixo da tal ponte, uma chuva de fagulhas prateadas – algo parecido com fogos de artifício, caiam do céu; como uma chuva de prata. Ninguém podia escapar da tal chuva, apesar de todos tentarem de alguma forma, proteger-se embaixo das marquises, árvores, jornais sob a cabeça e alguns guarda-chuvas. Inutilmente.

Quando cheguei embaixo da ponte; que era alta e de aparência fosca e cinzenta; como deveria ser, afinal era feita toda de concreto armado, parei para observar as pessoas a correr e apreciar as centelhas a cair.

Falsamente protegido da chuva de fagulhas ou de qualquer outro efeito da explosão, olhava as fagulhas caírem lentamente, como em câmara lenta.

Cada fagulha parecia destinada a uma pessoa. Tive a impressão de que cada uma das pessoas que corriam alucinadas de um lado para outro, tinha sua própria faísca. As pessoas eram como imãs que atraiam as fagulhas. Mas isso foi apenas a minha impressão, pois as partículas luminosas e cinzentas não tinham qualquer alvo; ou melhor, todos e tudo era um potencial alvo.

Fiquei embaixo do viaduto com mais algumas pessoas. Outras passavam correndo por nós, em todas as direções. Umas gritavam, outras choravam, outras chamavam o nome de familiares. Tudo em vão. Em meio ao caos e medo, ninguém ouvia.

Embaixo da ponte vi a espécie humana e tudo que tinha vida ser aos poucos, exterminada. 

Ali fiquei, em pé, assistindo o fim. Na certeza de que o Planeta seguiria em frente por mais alguns milhares de anos, sem seres humanos ou animais. Machucado e mal tratado, mas vivo.







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