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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

O Salvamento

Tenho pouquíssimas lembranças da minha infância. Quase nenhuma mesmo.
Mas, hoje, quero falar de uma pequena lembrança, em especial. Uma passagem com a minha irmã, dois anos mais velha do que eu.
Vasculhei o escaninho da minha memória para recordar certa passagem, quando eu e minha irmã estávamos em férias na cidade de Balneário de Camboriú, em Santa Catarina.
Antes quero deixar claro que acredito que a nossa memória nunca é pura, límpida. Sempre incluímos ou excluímos algum detalhe que nos apetece ou não.
Era verão. Dezembro ou Janeiro. Estávamos em férias escolares.
Não me recordo quanto anos de idade eu tinha, mas calculo por volta de um 10. Ou menos.
Estávamos na praia. O dia estava nublado, mas fazia calor. Tipo mormaço.
Minha mãe, na areia. Meu pai havia ficado em Presidente Prudente/SP, cidade no interior de São Paulo, aonde morávamos, e mandou um motorista – um primo nosso, levar-nos às férias.
Eu, como todo moleque, não parava. Corria pela areia, entrava e saia a todo momento do mar.
Minha irmã, como quase toda menina, era recatada e quieta, mas bem brava! Entrava na água também, mas por não saber nadar, não cobria mais do que os tornozelos de água.
Eu havia ganho uma boia de plástico, no formato de um bote. Com remos e cordas! Para mim, parecia um navio pirata ou um enorme transatlântico!
Num determinado momento, minha mãe “me obrigou” a emprestar a boia para minha irmã. Que insistia para que eu a emprestasse, para ela dar “uma voltinha”.
Eu, relutante e com muita raiva, acabei por emprestar, mas não saia de perto, sempre reclamando do fato da minha irmã estar usando a minha boia nova.
Como ela não sabia nadar, entrou no tal “bote” de miniatura e deixou que as ondas à levassem. Porém, em um determinado momento, as ondas a levaram para bem longe da margem. Não tão longe que fosse perigoso para qualquer pessoa que soubesse nadar, mas, para ela que, além de criança, não sabia nadar, esta situação mostrava-se um tanto quanto perigosa e assustadora. Para ela, creio. Para mim não, pois não tirava os olhos do meu bote. Estava o tempo todo sempre ao lado para “cuidar” da minha boia.
De repente vi uma barbatana no mar, há uns 8 ou 10 metros de nós.
Desesperado, apavorado, pensando ser um tubarão, virei a boia para tirar minha irmã de dentro dela. Minha irmã caiu na água, sem saber nadar e, talvez, sem alcançar o chão.
Eu estava somente preocupado em salvar a minha boia nova. Quase nem olhei para minha irmã se debatendo.
Agarrei a boia e corri para a areia.
Por sorte, minha mãe havia ido se banhar e estava por perto.
Pegou minha irmã pelo braço – ou pela mão, não me recordo bem, e tirou-a da água.
Já na areia, minha irmã chorava, gritava e me xingava. Não me bateu porque minha mãe impediu. Eu, ainda assustado com o “tubarão”.
Ficamos ali, na areia, olhando o “tubarão” que, logo alguém percebeu ser um golfinho.
Perto dos 9 ou 10 anos de idade, eu acho que nem sabia a diferença real entre um tubarão e um golfinho. Eu só sabia, naquele momento, que poderia perder minha boia. E que minha irmã já estava nela há muito tempo. E que fosse ou não um tubarão, o risco de perder minha boia nova era eminente.
Enfim, salvei a boia, minha mãe salvou minha irmã e ninguém salvou nossas férias depois daquilo.
Jefferson Oliveira

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