Abro o jornal de hoje, quarta-feira, 1º de outubro, dia em
que escrevo a coluna e me deparo com o título: “Disputa pelo 2º lugar é
acirrada, com Dilma isolada na liderança.” “Dilma isolada na liderança”. Como
assim? Essa nem assada eu como.
Dilma isolada na liderança. Reli a frase para ter certeza.
Mas estava lá. Resolvi olhar a Folha de São Paulo (que também assino). “Dilma
mantém vantagem”. Meu Deus. É o fim!
Fechei o jornal, olhei para a tela do computador, o cursor
piscando e de repente me chegou, talvez, a explicação que eu tanto buscava.
Ficou tudo claro. Cristalino. Transparente.
E a explicação me veio em forma da frase, precisamente a do
escritor francês Émile Zola, que li no dia 29 de setembro, dia em que se
comemora o aniversário de morte do escritor, que faleceu há 112 anos. A frase é
de uma força atemporal: “Que patifes, as pessoas honestas”.
É isso. Como eu não tinha percebido essa verdade que
sobreviveu ao tempo?
Tudo se explica nessa frase de cinco palavras. Nunca tão
poucas palavras conseguiram explicar 12 anos de governo PT até o momento. E até
outras coisitas mais.
Não é preciso nem filosofar. A frase é autoexplicativa. É
ler e entender. Nem precisa da tecla SAP.
O povo brasileiro, que tem a visão mais tosca, mais míope,
mais estrábica do que seja alguém com uma conduta ilibada, deve achar que, se a
pessoa é honesta, não vai prestar. Quem é honesto é patife. Não há outra
explicação. O autoflagelo pode ser também outra explicação. Ou pode ajudar a
explicar o fenômeno de termos tantos patifes legítimos – que não são os da
frase – no poder fazendo o que querem e até o que não querem, mas fazem porque
deixam que ele faça.
Infelizmente ainda é assim que tem funcionado.
O povo gosta de se vitimizar. O povo não pensa. Ele só vê o
que o político tem para oferecer. Se existe algum benefício, ele esquece todo o
resto. Ele não vê o todo. Não existe uma visão global. A visão de que, se o
político rouba, um hospital deixa de ser construído, uma escola deixa de ser
construída, um trem deixa de ser comprado, uma cidade deixa de ser saneada, uma
estrada deixa de ser asfaltada, uma cidade continua sem luz e por aí vai. Não
existe memória política do povo. Parece que na época da eleição, os eleitores
são possuídos por alguma síndrome ou algum vírus que apaga o HD de cada um e
aí… Bem aí você já sabe o que acontece. E para piorar, os políticos sabem
disso.
Se acontecesse dessa memória não ser apagada, acho que em
duas eleições conseguiríamos limpar um pouco a política.
O povo também não aprendeu que não deve decidir nada por um
simples debate entre candidatos. Geralmente, esses debates são embates com
acusações, troca de ofensas. O povo não aprendeu a ver que, por mais que um
candidato prometa o céu, a terra e o mar para o eleitor, este não tem o poder
de sozinho te dar nada do que ele prometeu. O povo deveria avaliar com quem ele
anda, quem o apoia, pois todas essas promessas vão depender de muitas outras
pessoas. O povo deveria, para votar de forma mais honesta, procurar o que
aquele candidato já vez na sua vida política. A grande maioria já tem um
passado, investigue o passado. O que deveria importar é o que aquela pessoa já
fez. O que irá fazer são outros quinhentos. Ainda mais nos dias de hoje quando
se tem a informação no toque dos dedos. Salvo quando alguém do Palácio do
Planalto não resolve modificar algumas informações, como foi feito no perfil do
Wikipédia de alguns jornalistas. Mas não é um caso comum. É raro.
Então, nos dias de hoje, teríamos todas as condições de
fazer uma eleição mais limpa e, com ela, tentar ir limpando o mar de lama que
virou o mundo político brasileiro. Mas para isso, teríamos de ter um povo menos
preguiçoso, que não se contentasse com alguns mimos em troca de votos. Um povo
que dissesse ‘agora basta’ e buscasse o que é melhor. E principalmente, que
descobrisse que o patife de verdade, não é honesto. O patife é o patife.
Texto de: Claudio Schamis
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