Dizem que Ernest Hemingway nunca teve uma afinidade com a
cozinha como a que tinha com a máquina de escrever. Mas o homem era dos
melhores apreciadores da boa culinária. Prova disso é que o escritor
norte-americano foi um dos maiores fãs do restaurante mais antigo do mundo, o
célebre “Restaurante Botín”, reconhecido pela excelência de sua cozinha,
situado na capital espanhola.
Em 1725, o francês Jean Botín e sua esposa – que mantinham
um negócio em Madrid – receberam seu sobrinho, que viera morar com eles. Este
sobrinho fundou uma espécie de pousada num antigo prédio, datado de meados de
1590, situado numa região comercial da cidade. Àquela época, a pousada apenas
servia assados. Originalmente batizado com o nome “Casa de Botín”, e mais tarde
“Sobrino de Botín”, o local era chamado de “casa de comida”, pois a denominação
“restaurante” referia-se somente a alguns raros e exclusivos lugares.
O local está no livro dos recordes como o restaurante mais
antigo do mundo em atividade ininterrupta. E também porque desde sua fundação,
em 1725, não sofreu nenhuma modificação na estrutura do local. Há quase três
séculos é usado o mesmo forno, do qual emanam os mais tentadores aromas na
antiga “Rua dos Cuchilleros”, em Madrid.
Esqueça a sofisticação e o luxo. Nem hoje e nem nunca o
Restaurante Botín ostentou tais atributos. Ostenta mais: simplicidade, tradição
e qualidade no serviço e atendimento. Hoje, o restaurante mantém uma carta
singular com a melhor comida típica espanhola, a qual atrai, de todas as partes
do mundo, profissionais e amantes da culinária. Além disso, possui uma equipe
de funcionários que mais parece uma família. Muitos deles estão lá há 20, 30
anos, por o considerarem um excelente local de trabalho. Mérito de seu atual
dono, Antônio González Gómez.
O Restaurante Botín chegou em 1930 às mãos da família
González, que decidiu manter o nome e a tradição da cozinha. Tão excepcional
quanto o restaurante é a simpatia de Antonio González, que afirma que
permanecer da mesma forma é essencial para preservar o espírito autêntico do
passado.
Com uma atmosfera despretensiosa, a fachada do restaurante
lembra a de uma simples cantina, e Botín adentro verificamos um lugar cheio de
corredores estreitos, utilizados atualmente como armazéns. Seu interior mantém
uma estrutura antiquíssima e imponente, espalhada por três andares. O
restaurante já passou por restaurações, mas sempre manteve sua arquitetura
original.
O local é também famoso pelas citações em livros de autores
como Pérez Galdós, Arturo Barea, Truman Capote e do próprio Ernest Hemingway,
entre outros.
“Almoçamos no primeiro andar do Botín. É um dos melhores
restaurantes do mundo. Comemos leitão assado e bebemos Rioja Alta. Brett não
comeu muito. Ela nunca comia muito. Comi que me fartei e bebi três garrafas de
Rioja Alta.” (Ernest Hemingway - The Sun Also Rises, 1926).
Sendo um dos destinos culinários mais visitados de todo o
mundo, é também alvo de muitas histórias e algumas lendas. Uma delas é que, em
1765, o pintor espanhol Goya lavou pratos na antiga casa a fim de sustentar-se
enquanto aperfeiçoava seu verdadeiro talento.
O prato mais famoso da antiga casa é o clássico “Cochinillo
Asado”, um leitão de apenas vinte dias, que derrete na boca, assado no lendário
forno ativo desde a fundação do restaurante. Além do leitão, a casa serve uma
afamada “Sopa de alho com ovo” e o ousado “Chipirones en su tinta” (lulas na
própria tinta).
E não é só de comida que vive o antigo Botín. Há a música
também. Enquanto saboreamos as especialidades da casa, um grupo musical
percorre as mesas com canções típicas espanholas, trazendo ao ambiente um clima
agradável e descontraído.
Boa comida e boa bebida em um ambiente distinto, que oferece
uma atmosfera rústica e aconchegante – além de um serviço de qualidade - é
receita certa para momentos extraordinários, causos e sabores memoráveis. E
tudo isto é oferta da casa. E tudo isto está, além dos cardápios, na História.
De Goya a Hemingway. Dos Botín aos Gonzáles, do passado ao presente para o
resto do mundo. ¡Salud!
Fonte: Obivious
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