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quarta-feira, 2 de março de 2011

A Rua dos Pescadores....

Em 1590, os frades beneditinos puderam finalmente iniciar a construção de seu convento e igreja, após receberem como doação, da parte de Diogo de Brito Lacerda, a sesmaria concedida em 1573 a seu pai, Manuel de Brito, pelo governador Cristóvão de Barros. A enorme área, que incluía a Prainha (Praça Mauá) e parte do Morro da Conceição, tinha como imite ao sul um pequeno curso d'água, que se originava próximo ao local onde se encontram as ruas Alcântara Machado e Visconde de Inhaúma, seguindo até o mar, em uma praia inicialmente chamada de São Bento.

Neste local relativamente isolado, pescadores construíram algumas choças para moradia, sendo por muito tempo os únicos habitantes. Sua presença deu nome ao riacho, conhecido como ribeirão dos Pescadores, e o mesmo se deu com uma via que o acompanhava, chamado de Caminho e depois rua dos Pescadores. Décadas após, em meados do século XVII, os frades desviaram o curso do riacho para junto do Morro de São Bento, para com isto irrigar sua horta, a qual abrangia a maior parte das terras da várzea. Desaparecendo o ribeiro, contudo, permaneceram rua e os pescadores.

Visconde de Inhaúma em 1906, após as reformas de Pereira
Passos. Os imóveis remanescentes estão sempre sob ameaça
de virar estacionamento.
No início do século seguinte, a praia passaria a ser conhecida como dos Mineiros, pelo seu uso no desembarque de mercadorias e pessoas provenientes das Minas Gerais, cuja última etapa da viagem acontecia em embarcações que saíam de portos no fundo da Baía de Guanabara. Foi neste local que nasceu a Marinha brasileira, através da criação do Arsenal em 1764 pelo vice-rei Conde da Cunha, embora seu pleno desenvolvimento só ocorresse a partir do Império, após a independência.

A rua dos Pescadores paulatinamente se dirigiu ao interior, à medida em que se drenavam os terrenos, inicialmente até onde é a Alcântara Machado e depois até o Largo de Santa Rita. A ligação com a região ao norte da cidade e o Campo de Santana só aconteceria em 1787, com a abertura da rua de São Joaquim, a qual oferecia um acesso mais direto e com menos desvios. Após a chegada da Côrte, em 1808, vários personagens de destaque lá tiveram residência, como o Conde de Bonfim e o Barão de Itamarati, antes de construir seu palacete da rua Larga, vendido posteriormente ao governo republicano. Em 1869 seu nome é mudado para Visconde de Inhaúma, em homenagem ao almirante José Joaquim Inácio, herói da Guerra do Paraguai, falecido neste mesmo ano.

Em 1905 seria alargada e se uniria à rua Larga de São Joaquim (Marechal Floriano), a qual foi prolongada até o Largo de Santa Rita, concretizando uma ligação imaginada há muito, embora tenha causado a perda da Igreja de São Joaquim, localizada ao lado do Colégio D. Pedro II. A origem desta antiga rua está em grande parte ligada à história do Mosteiro de São Bento e sua relação com a Marinha, que ali nasceu em terrenos doados ou vendidos pelos religiosos, desmembrados da grande sesmaria de Manuel de Brito, concedida em uma época na qual ainda se lutava contra Tamoios e franceses remanescentes do tempo de Villegagnon.



Fonte: Jornal do Brasil - arquivo

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