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domingo, 20 de fevereiro de 2011

Antiga casa de Che Guevara em Córdoba revela infância do revolucionário

Quando, em 1932, as crises de asma já não davam trégua aos brônquios de “Ernestito”, de apenas quatro anos de idade, sua família decidiu mudar-se para as serras, por recomendação médica. O clima seco aliviou parte do sofrimento padecido pelo menino, após muitos tratamentos ineficazes na solução da doença que o acompanharia por toda a vida. 

Assim, a cidade de Alta Gracia, localizada a 35 km de Córdoba, capital da província argentina de mesmo nome, viu crescer quem futuramente seria conhecido como Che Guevara em toda a América Latina e, por que não dizer, do mundo. Foram 12 anos, mudando de casa em casa, durante a maior parte da infância e da adolescência do revolucionário.


Uma delas, no entanto, foi definida pelo irmão de Che, Roberto Guevara, como a “casa de nossas recordações infantis”. A residência Villa Nydia, localizada na rua Avellaneda 501, foi aberta ao público em 2001 e convertida no Museu Ernesto Che Guevara, que abriga réplicas de seus objetos pessoais e diversos registros da trajetória percorrida da infância à fase guerrilheira.

Uma estátua de “Ernestito” sentado na varanda, logo na entrada, é o primeiro dos elementos que montam a linha narrativa desta história, desde a mudança à cidade em busca de uma cura para os males respiratórios, passando pelas viagens pela América Latina e seu protagonismo na Revolução Cubana, até a descoberta de sua ossada em uma cidade do interior da Bolívia, em 1997.



Estátua de "Ernestito" sentado na varanda inicia narrativa da exposição

A ambientação da casa foi recriada segundo testemunhos de conhecidos e vizinhos, com réplicas dos móveis que pertenceram à família, fotos, cartas e homenagens escritas por amigos da infância. Na reprodução de seu quarto, em cima da cama, estão a bombinha para a asma, indispensável companheira, e alguns de seus livros favoritos quando criança: As aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain; Coração, de Edmundo de Amicis e O Corsário Negro, de Emilio Salgari.

Nas paredes, molduras com as cartas enviadas à sua tia Beatriz Guevara Lynch, nas quais relata seu dia a dia na escola, revelam as primeiras tentativas caligráficas que, anos mais tarde, se transformariam em um hábito, observado seus em extensos diários de viagens e dos dias de guerrilha.

Frente do Museu Ernesto Che Guevara, na cidade de Alta Gracia, em Córdoba

Quando não podia sair com os amigos ou ir à escola, devido às crises de asma, Ernestito se refugiava na cozinha, na companhia de Dona Rosarito, cozinheira que lhe preparava remédios caseiros com ervas aromáticas da região. O pequeno Che demonstrava seu afeto colando em um caderno receitas recortadas do jornal que o pai levava para a casa, algumas das quais estão expostas na parede do recinto.

Na antiga sala de jantar da família, onde o pequeno Che tomava lanche com os amigos, se vê uma réplica da motocicleta com a qual o guerrilheiro percorreu cerca de quatro mil quilômetros. Atrás dela, um mapa ilustra os percursos de suas viagens. A sala também mostra fotos junto ao seu amigo e companheiro de sua primeira viagem pela América do Sul, Alberto Granado, na balsa batizada de “Mambo Tango” por pacientes cuidados por eles, em um leprosário às margens do rio Amazonas, no norte peruano.

Réplica da moto com a qual Che e Granado cruzaram a América do Sul

O pátio da casa, menos conservado, era o lugar onde o argentino se reunia com amigos para brincar e jogar futebol. O local é mencionado em várias mensagens deixadas por seus amigos de infância, expostas em uma das salas do museu. Uma delas relata: “O fundo da casa de Guevara estava ao lado de um terreno baldio. Um dia construímos uma pista para andar de bicicleta. Todos os amigos de Ernesto cooperaram. Algum tempo depois, transformamos a pista em um campo de futebol”.

Entre os deliciosos relatos, um amigo conta um interessante episódio: “Fomos ao cinema ver filmes de guerra. Foi lá que Ernesto teve a ideia de fazer duas trincheiras separadas por uns 20 metros de terreno para brincar de guerra. Tiramos duas portas de arame do fundo da casa e usamos como teto. A terra das trincheiras foi cuidadosamente colocada (...) Os menores forneciam os projéteis, umas frutas secas e duras do tamanho de uma toranja. Eles eram lançados de uma trincheira para a outra, mas Ernesto levantou a cabeça e acertaram seu olho, que inchou e ficou roxo. Ele ficou bravo, de tal forma, que disse de tudo, mas terminou rindo. Tinha assimilado o golpe. Mais tarde, seu pai saiu e mandou todos embora, dando um fim ao combate”.

Os mais fanáticos podem encontrar no museu cópias de boletins de desempenho na escola, o diploma de médico – após sua primeira viagem pela América Latina, Che voltou para a Argentina para terminar a faculdade, como tinha prometido à sua mãe -, o uniforme de guerrilheiro, cartas manuscritas a seus filhos e ao companheiro Fidel Castro e, inclusive, seu comunicado de renúncia à direção do Partido Unido da Revolução Socialista de Cuba.

Museu já foi visitado por simpatizantes como Hugo Chávez e Fidel Castro

Castro e Hugo Chávez foram algumas das personalidades que visitaram a exposição durante a passagem por Córdoba, na Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, em julho de 2006. Os mandatários percorreram os cômodos da antiga casa de Che contando anedotas e histórias sobre o argentino.








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