Páginas

sábado, 13 de março de 2010

E salve a ignorância!

Houve um tempo em que eu não sabia nada.
Nada mesmo!
Isso foi lá pela década de 60.... nos meus primeiros anos de vida.
Tempo bom. Muito bom.
Quer dizer, deve ter sido bom, pois eu não me lembro de nada! Santa ignorância!
Mas vendo, vivendo e não estando ignorante nos dias de hoje, e diante de tudo que já vi nestes mais de 40 anos de vida (não muito mais!), posso dizer com segurança: ser ignorante é bem melhor.
Claro, talvez você não concorde com isso. Você, assim como eu até bem pouco tempo atrás, deve achar que a "informação é tudo". Esta frase até já se tornou um chavão. Quem não tem saber, não tem poder. A informação trás poder. E poder trás muitos benefícios. Concordo, discordando.
Há uns 450 anos atrás, lá no tempo do Cabral, da Companhia de Jesus (dos Jesuítas) e dos Governadores-Gerais, o Governo português enviou ao Brasil alguns padres da Igreja Católica, que ficaram conhecidos como Jesuítas. Esses padres tinham a missão de catequizar os "selvagens", no caso os índios brasileiros (mas também estiveram na África e na América espanhola). Sua missão era a de transmitir a língua portuguesa e a espanhola, os costumes europeus e a religião católica aos índios e nativos. Uma certa vez, numa dessas missões, um índio perguntou porque e para que eles, os índios, precisariam da religião se já tinham tudo que lhes era necessário: caça e pesca abundante, terras férteis que lhes davam de comer e seus próprios deuses para reverenciar. O Jesuíta, do alto de sua sabedoria, respondeu que os que não eram catequizados, que não serviam a Jesus e ao deus católico iriam queimar no inferno. Inferno que, aliás, os índios não sabiam do que se tratava! O índio continuou a questionar: -mas e os índios que não conhecem o catolicismo, não conhecem Jesus e a "palavra" de deus? O que será deles? O Jesuíta, com a arrogância e rigidez que lhes era peculiar, respondeu que esses, por não saberem, por serem ignorantes, seriam perdoados e teriam um lugar garantido no céu, no paraíso ao lado de Jesus e teriam a vida eterna. O pobre índio, confuso e indignado disse-lhe: -mas se é assim, porque você me contou sobre esse seu deus!? Seria melhor que eu tivesse continuado a ser ignorante, feliz e despreocupado se vou para esse tal inferno ou não, se terei a vida eterna ou não!
É dessa ignorância que estou falando. Da ignorância pura, límpida, cândida e singela.
Da ignorância que raramente encontramos nos dias de hoje. Da ignorância do matuto dos cafundós do sertão. Como diz a música: "Vai diminuindo a cidade, vai aumentando a simpatia. Quanto menor a casinha, mais sincero o bom dia.".
Hoje vi num jornal qualquer o caso de uma juíza que, pensando saber mais que a vítima, deu uma sentença desfavorável à ele. Pelo que li, foi por "falta de provas" que a juíza não condenou o criminoso. Apesar dos fatos, das testemunhas dizerem o contrário. A juíza alegou que apenas "seguia a lei" e jogou na rua mais um criminoso, livre pra voltar a cometer os crimes que quiser.
Não seria melhor a ignorância, num caso desses? Não sei.... penso que sim. Mas de uma maneira global, não "só neste caso".
Sei que voltar aos "tempos das cavernas" é impossível. Nos tempos das cavernas não existiam 7 bilhões de seres humanos! Tudo era mais "fácil". Tudo era abundante. Até os predadores dos humanos! Mas o equilíbrio se fazia.
Uma vez, assistindo a CNN (quando ainda era transmitida no Brasil, em português, por TV a cabo) vi, ao vivo e a cores, a ação de uns terroristas na Russia, mais precisamente na cidade de Beslan, onde eles fizeram mais de 1200 pessoas reféns, entre elas dezenas de crianças. No terceiro dia após a invasão dos terroristas, as forças de segurança russas entraram na escola e atacaram os sequestradores, que detonaram explosivos e atiraram nos reféns. O resultado foi a morte de 344 civis, sendo 186 deles crianças e centenas de feridos.
Quando os policiais russos invadiram a escola e as bombas foram detonadas (de ambos os lados) eu reparei que um pombo, que estava pousado no galho de uma árvore próxima a escola, voou para outro galho, outra árvore. Embaixo dele a fumaça tomava conta de tudo. Correria. Tiros. Mais explosões. O pombo, já no seu novo galho, permaneceu imóvel, alheio a toda a confusão e caos que se apresentava logo abaixo de suas asas.
Deste galho ele, com a tranquilidade que só os ignorantes tem, voou novamente, sumindo do alcance das câmeras de TV e seguiu seu caminho. Vivendo. Só vivendo. Na plenitude de toda a sua ignorância.
Isso me deu uma inveja do pombo que vocês não imaginam! hehehe Ah.. como deve ser bom ser ignorante.
Infelizmente o ser humano foi amaldiçoado (aliás como digo no cabeçalho deste blog) com o pensamento. Pensando sentimos medo. Sentindo medo somos forçados, pelo nosso inconsciente, a reagir. Reagindo inventamos uma infinidade de artimanhas, de artifícios, que nos trouxeram aonde nos encontramos agora: perdidos, sofrendo com as dificuldades do dia a dia, com as disputas, com os fracassos, com a revolta da natureza aos nossos abusos, com as competições pra saber quem é "melhor", mais bem sucedido na vida, quem tem o melhor carro, a melhor roupa, a melhor casa, o melhor corpo, a melhor vida.
É essa a vida que não escolhemos ter. Essa é a vida que nos foi imposta pela evolução.
Por isso, e por fim, eu te digo: não pense muito. Pensar enlouquece...


2 comentários:

  1. Seja bem vindo a escolinha humanóide, planetóide terra, solo Brasilis, esforce-se para não ser reprovado, ainda bem que pensar neste país ainda não paga imposto. abçs MDS

    ResponderExcluir

Deixe aqui seu comentário. Ele é a nossa recompensa.