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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

O "pra sempre" sempre acaba.

Eu tenho hoje 48 anos de idade e há alguns poucos anos eu nem tinha o segundo grau. Não. Não foi por falta ou escassez de massa encefálica ou qualquer problema no “HD” ou “HE”, mas sim por comodismo, pela certeza de que o “pra sempre” nunca acabaria. Mas acaba. Como nos ensinou um dos maiores gênios brasileiros: Renato Russo.
Em sendo assim, levei a vida, como dizem, “na flauta”, sem me preocupar com o amanhã, sem ouvir ninguém, sem respeitar as condições que a vida nos impõe.
I-M-P-Õ-E. Não há o que fazer, a não ser lamentar o que não fizemos.
Não que eu me arrependa de todas as coisas que fiz. Algumas sim, mas a maioria não.
Quando se é jovem, com vinte e poucos anos, nada importa a não ser o momento. Claro, as coisas mudam, estou falando da minha geração e das anteriores. Hoje tudo é diferente – ou quase tudo. A competitividade do mundo contemporâneo é acirrada, voraz e mordaz. Isso faz com que os jovens tenham que ser cada vez mais competitivos para poder ter um lugar na sombra. Uns conseguem, outros ficam no limbo. Olha a vida ai, mais uma vez, impondo as condições que ela projeta para cada um de nós.
Mas eu nunca fui daqueles que ficam esperando a tempestade passar, eu sou daqueles que andam debaixo da chuva. Infelizmente, às vezes, fico ensopado. E isso, confesso, não é bom. Não. Ninguém disse que seria bom, apenas dizem que tem que ser bom. Mas porque tem que ser bom se o bom, às vezes, é o ruim?
Depois de muita “água” e muitos banhos de chuva, um dia, não sei por que, escutei minha irmã. Minha irmã.... logo ela, que nunca esteve ao meu lado, pois eu nunca permiti. Sempre estive distante, egoisticamente distante.
Mas o tempo é o melhor dos professores, o melhor dos médicos, o melhor dos amigos. Tudo é resolvido com o tempo.
O tempo passou e me mostrou que eu não estava sozinho, que eu tinha uma amiga, mais do que isso, que eu tinha uma irmã. E uma irmã com quem eu poderia contar sempre que precisasse. Eu, claro, abusei da boa vontade dela muitas vezes. Abuso até hoje.
Minha irmã, a Lígia, foi uma grata surpresa numa vida de tantas certezas, como foi a minha. Certezas? Sim, certezas. Eu sempre tive a certeza que o amanhã nunca chegaria, por isso vivia o hoje, o agora. Isso, dizem os poetas, é o correto, mas o problema é que o amanhã chega e se você não estiver preparado, as consequências são dolorosas e desgastantes.
Num dia como outro qualquer recebi um telefonema da minha irmã. Um telefonema sem maiores pretensões. Durante a nossa conversa ela me questionou porque eu não fazia o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). Eu, com minha turrona ignorância, respondi que não precisava disso. Ela, esperta e integrada ao sistema, que sempre foi, insistiu, dizendo que, a depender dos pontos que eu conseguisse no ENEM conseguiria o meu Certificado do Ensino Médio. Continuei resistindo e refutei dizendo que em toda minha vida nunca precisei disso e que não me fazia falta. Ela insistiu e eu cedi. Fiz o tal exame do ENEM. Obtive pontos suficientes não só para conseguir o Certificado de Conclusão do Segundo Grau, como também para me inscrever, com direito a Bolsa de 100%, em duas Universidades locais. Uma Federal e outra Privada. Ainda sem acreditar, fiz a matrícula na Universidade, e o resultado eu pude ver ao longo desses últimos anos: apaixonei-me pelo conhecimento. Fui “picado” pelo bichinho da leitura e da curiosidade.
Aquele telefonema que minha irmã me fez há alguns anos, não terminou naquele dia. Na verdade ainda não terminou. Hoje, devido aquele telefonema, estou formado. Contra tudo e contra todos, hoje tenho um Diploma Universitário. Na verdade nem eu sei como isso pode ser possível. Nem eu, às vezes, acredito nisso. Mas, mesmo eu não acreditando, minha irmã acreditou e cá estou eu hoje, com um Curso Superior Completo.
Claro que tenho outras pessoas à agradecer, mas você, minha irmã, foi a protagonista dessa conquista.
Esse meu Diploma deveria ter o seu nome nele.
Obrigado minha irmã.


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