Bíblia "Sagrada" |
O livro mais
popular de todos os tempos. O livro mais reproduzido do mundo. O livro mais
vendido do planeta. Já deu pra perceber que a bíblia é um livro peculiar. Você
já se perguntou de onde veio este livro? Qual é a sua real origem? Foi este
livro que moldou todo o pensamento e a cultura do ocidente. Mas você já se
questionou se ele é realmente um livro confiável?
Antes de tudo,
saiba que você está lendo um texto introdutório a essa questão e de que o foco
está mais concentrado no novo testamento (apesar das contradições e erros serem
encontrados em ambos os testamentos). Não haverá uma análise detalhada dos
aspectos históricos, pois isso demandaria de mais espaço e da paciência de você
para ler um post gigantesco. Não quebrando a regra do blog, de que os assuntos
sérios serão expostos numa linguagem simples (sem a complicação da linguagem
técnica), para isso preciso ser sucinto no texto. A intenção é despertar seu
interesse pelo assunto e não dar todas as informações mastigadas. Vamos começar
então:
Conhecendo a Bíblia
Primeiro temos
que conhecer nosso objeto de estudo. A bíblia não é um livro, é um conjunto
deles. A palavra “bíblia” vem do grego βίβλια, plural de βίβλιον, que
transliterado se lê bíblion, “rolo” ou “livro”. Ela possui 66 livros (na versão
protestante, pois na católica há 73). Ela foi escrita por em torno de 40
pessoas, mas, dizem os religiosos, seu verdadeiro “autor” foi Deus (vide II
Pedro 1: 20-21). Ela foi escrita num período de 1600 anos (dependendo da sua
fonte esse tempo pode aumentar para 2000 anos) com essas três línguas: o
hebraico, aramaico e o grego. A bíblia possui dois conjuntos de livros: o
antigo testamento (onde há a história do povo de israelita, as profecias
referentes a vinda do messias, as leis judaicas, entre outras coisas) e o novo
testamento (onde há o relato da vida de Jesus aqui na terra, o testemunho dos
primeiros cristãos, profecias sobre a volta de Jesus e as instruções para a
vida cristã, e etc.). Agora você já conhece, mesmo que pouco e
superficialmente, a bíblia (mas caso queira mais detalhes, clique aqui).
Escolhendo os Livros
A bíblia antes
de Gutenberg a ter imprimido no ano de 1462, era reproduzida de forma
manuscrita. Aí que está o problema. Muitos livros da bíblia não têm nem o seu
original, ou seja, o que se lê hoje é apenas cópia de uma cópia. E nos
primeiros séculos da era cristã, os evangelhos (que não eram só 4), as
epístolas “paulinas”, os livros de histórias sobre os apóstolos, eram
reproduzidos de forma desajeitada e confusa. Não havia um conjunto que fosse
unificado em um volume. Por determinado período assim ficou, com escritos se
perdendo e outros sendo criados. Nesta época, o Cristianismo era apena mais um
discurso entre tantos, era apenas uma reles dissidência do Judaísmo. Contudo,
ele estava crescendo, ganhando força (mesmo sem organização alguma, pois o
Cristianismo nunca foi coeso e sempre teve inúmeras ramificações). Mesmo se
proliferando de forma rápida, os cristãos ainda eram minoria (10% da população
romana), mas Constantino (317-340 d.C.), imperador romano, viu no Cristianismo
uma oportunidade de integrar o império. E num ato de estratégia política, ele
resolve torna o Cristianismo a religião oficial de Roma (mas sem abandonar
muitas das datas de festas pagãs).
Como o
Cristianismo era muito ramificado, havia a necessidade de criar regras,
doutrinas que padronizassem este “novo” credo. Um aspecto importante desse
processo de unificação do Cristianismo sob a forma de uma instituição, era ter
um livro que fosse organizado e “coerente” que explicitasse as doutrinas e as
verdades cristãs. Para resolver esse e outros problemas de cunho teológico (e
político não esqueça disso), aconteceu no ano de 325 d.C. o Concílio de Nicéia.
300
senhores decidindo o que fica e o que sai
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Neste concílio
reuniram-se 300 bispos para desenvolverem o escopo doutrinal e teológico do
Cristianismo. Uma das decisões que foram tomadas neste encontro, foi quais
livros seriam considerados divinamente inspirados e quais não. Esta escolha foi
feitas por homens que escolheram os livros de acordo com seus padrões. Não
houve nenhuma interferência divina na escolha. Leia este absurdo:
“O bispo de
Lyon, Irineu, explica os pitorescos critérios utilizados na escolha dos quatro
evangelhos (reparem na fragilidade dos argumentos…): ‘O evangelho é a coluna da
Igreja, a Igreja está espalhada por todo o mundo, o mundo tem quatro regiões, e
convém, portanto, que haja também quatro evangelhos. O evangelho é o sopro do
vento divino da vida para os homens, e, pois, como há quatro ventos cardiais,
daí a necessidade de quatro evangelhos. (…) O Verbo criador do Universo reina e
brilha sobre os querubins, os querubins têm quatro formas, eis porque o Verbo
nos obsequiou com quatro evangelhos’” (Roberto C. P. Júnior).
De evangelhos
existem 60 hoje, como os de Pedro, Tomé, Felipe, Tiago, dos Nazarenos, e tantos
outros. Mas no início do Cristianismo existiam mais de 315, número que reduziu
para 4 no Concílio de Nicéia. Os evangelhos apócrifos (que não foram inspirados
pelo Espírito Santo) que não foram escolhidos para fazer parte do novo
testamento, na sua maioria, foram queimados, esquecidos ou proibidos de serem
lidos. Os 27 livros do novo testamento são do século IV.
Contradições e Modificações
Bom,
“resolvido” a questão da multiplicidade de textos, começa-se então a propagação
do que foi escolhido como inspirado (que você viu que de inspirado não tinham
nada). Essa propagação foi muito intensa
na Idade Média com os monges copistas dedicando suas existências para os
escritos da bíblia. Eles passavam dias inteiros transcrevendo textos enormes
(imagine escrever a bíblia toda a mão!). Os erros acidentais eram inevitáveis,
mas alguns (muitos) desses “erros” não foram (nem de longe) acidentais. Foram
modificações propositais.
Basta você
pegar sua bíblia e abrir no novo testamento e começar a ler. Discrepâncias irão
surgir de todos os lados. Vou mostrar alguns desses crassos erros que há em
determinados trechos das Escrituras:
Para onde foi Jesus depois que nasceu?
Segundo o
evangelho de Mateus (2:13,14), a família de Jesus fugiu para o Egito. Mas para
Lucas (2:39) o caminho foi outro. Jesus e sua família foram para Belém,
cumpriram os ritos de purificação e voltaram para Nazaré, e não deram nenhuma
passadinha no Egito (nem para dar uma olhada nas pirâmides).
Qual foi o dia em que Jesus foi crucificado?
Em Marcos
(14:12; 15:25) Jesus foi crucificado depois ceia pascoal. Enquanto que para
João (19:14 vide: Nova Tradução Na Linguagem de Hoje – NTLH, da SBB) isso
aconteceu na véspera da ceia.
Mais:
Em Marcos
(2:23-36*) há uma referência a um episódio que está relatado no livro de I
Samuel (21:1-6). Quando você ler o texto de Samuel (espero que você o faça), o
erro de Marcos fica patente. O evangelista põe na boca de Jesus o nome errado
do sumo sacerdote, que não é Abiatar, mas seu pai Aimeleque (ou Aquimeleque,
segundo a bíblia da CNBB).
Depois de sua
“conversão”, para onde Paulo foi?
Paulo teve um
“encontro” com Jesus a caminho da cidade de Damasco e segundo Atos dos
Apóstolos (9:26,27) depois disso foi para Jerusalém. Será? Vamos perguntar para
o próprio Paulo: onde você foi rapaz? Olhe a resposta aqui: Gálatas (1:16-20).
Neste texto, Paulo fala que ele foi primeiro em Damasco e só DEPOIS DE 3 ANOS
que foi a Jerusalém e encontrou-se com Tiago e não com Barnabé como está em
Atos. No versículo 20 Paulo diz que não está mentindo. Quem está então?
Os Copistas e as Modificações
Alguns copistas
não apenas transcreviam os textos, mas lhes faziam acréscimos. Em outros casos,
eles colocavam comentários sobre os textos escritos na borda folha, e outros
copistas que pegavam aquela cópia para reproduzi-la, acrescentavam o comentário
no corpo do texto como se ele sempre tivesse pertencido a ele.
Copistas
medievais: modificadores das escrituras
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Veja
algumas modificações propositais feitas na bíblia e que estão até hoje na
bíblia:
A
história que está relatada em João (8:1-11) é, comprovadamente, um acréscimo
feito por algum copista. Esta história, segundo alguns pesquisadores, fazia
parte de uma tradição oral sobre Jesus. Sabe-se que essa história é um
acréscimo por algumas provas cabais, tais quais: nos mais antigos e conservados
exemplares deste evangelho, esta passagem não existe. Há outras versões deste
evangelho que os copistas colocaram esta passagem não depois de João 7:52 (pois
o versículo 53 sequer existe) e sim depois de João 21:25 e há ainda outros que
colocam a história depois de Lucas 21:28.
Os
12 últimos versos de Marcos não existem nas cópias mais antigas. É um acréscimo
de um copista que deve ter julgado que o final abrupto suscitaria perguntas
incômodas.
Curiosidade:
Muitas
das cartas “paulinas” sequer foram escritas por Paulo. Muitos de seus
seguidores escreviam e atribuíram a autoria a Paulo, pois ele era uma
autoridade na igreja cristã primitiva. Por exemplo, a carta aos Hebreus. Ela
não tem nenhuma linha escrita sequer pelo punho de Paulo, mas foi atribuída a
ele e isso se convencionou pela tradição, e todos (os menos esclarecidos) falam
desta epístola como se ela tivesse sido REALMENTE escrita por Paulo.
Existem
na bíblia inúmeras contradições e incongruências. Em um estudo feito com apenas
100 manuscritos, foram encontrados mais de 30 mil variantes entre eles. Hoje
existe uma faixa de 5.700 manuscritos do novo testamento que foram descobertos
e catalogados, que mostram erros tão grosseiros e descarados que confiar nestes
escritos é uma alternativa descartada.
A
bíblia não é inspirada por Deus. Não foi Deus quem a escreveu. Não. Pergunte-se:
se as palavras da Escritura não são dignas de confiança e nem seguras, o que
dizer da fé baseada nelas?
(Para
ver mais contradições bíblicas, acesse A Bíblia do Cético Comentada. Leia
também o livro que serviu de base para este texto: Bart D. Ehrman – O que Jesus
disse? o que Jesus não disse? Quem mudou a bíblia e porque).
Errata:
*Como
apontado por um leitor, o capítulo 2 de Marcos vai até o verso 28. Este foi um
erro de digitação tardiamente percebido.
Fonte: Retalhos de Existência
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