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sexta-feira, 26 de julho de 2013

A Bíblia não é confiável

Bíblia "Sagrada"

O livro mais popular de todos os tempos. O livro mais reproduzido do mundo. O livro mais vendido do planeta. Já deu pra perceber que a bíblia é um livro peculiar. Você já se perguntou de onde veio este livro? Qual é a sua real origem? Foi este livro que moldou todo o pensamento e a cultura do ocidente. Mas você já se questionou se ele é realmente um livro confiável?

Antes de tudo, saiba que você está lendo um texto introdutório a essa questão e de que o foco está mais concentrado no novo testamento (apesar das contradições e erros serem encontrados em ambos os testamentos). Não haverá uma análise detalhada dos aspectos históricos, pois isso demandaria de mais espaço e da paciência de você para ler um post gigantesco. Não quebrando a regra do blog, de que os assuntos sérios serão expostos numa linguagem simples (sem a complicação da linguagem técnica), para isso preciso ser sucinto no texto. A intenção é despertar seu interesse pelo assunto e não dar todas as informações mastigadas. Vamos começar então:

Conhecendo a Bíblia

Primeiro temos que conhecer nosso objeto de estudo. A bíblia não é um livro, é um conjunto deles. A palavra “bíblia” vem do grego βίβλια, plural de βίβλιον, que transliterado se lê bíblion, “rolo” ou “livro”. Ela possui 66 livros (na versão protestante, pois na católica há 73). Ela foi escrita por em torno de 40 pessoas, mas, dizem os religiosos, seu verdadeiro “autor” foi Deus (vide II Pedro 1: 20-21). Ela foi escrita num período de 1600 anos (dependendo da sua fonte esse tempo pode aumentar para 2000 anos) com essas três línguas: o hebraico, aramaico e o grego. A bíblia possui dois conjuntos de livros: o antigo testamento (onde há a história do povo de israelita, as profecias referentes a vinda do messias, as leis judaicas, entre outras coisas) e o novo testamento (onde há o relato da vida de Jesus aqui na terra, o testemunho dos primeiros cristãos, profecias sobre a volta de Jesus e as instruções para a vida cristã, e etc.). Agora você já conhece, mesmo que pouco e superficialmente, a bíblia (mas caso queira mais detalhes, clique aqui).

Escolhendo os Livros

A bíblia antes de Gutenberg a ter imprimido no ano de 1462, era reproduzida de forma manuscrita. Aí que está o problema. Muitos livros da bíblia não têm nem o seu original, ou seja, o que se lê hoje é apenas cópia de uma cópia. E nos primeiros séculos da era cristã, os evangelhos (que não eram só 4), as epístolas “paulinas”, os livros de histórias sobre os apóstolos, eram reproduzidos de forma desajeitada e confusa. Não havia um conjunto que fosse unificado em um volume. Por determinado período assim ficou, com escritos se perdendo e outros sendo criados. Nesta época, o Cristianismo era apena mais um discurso entre tantos, era apenas uma reles dissidência do Judaísmo. Contudo, ele estava crescendo, ganhando força (mesmo sem organização alguma, pois o Cristianismo nunca foi coeso e sempre teve inúmeras ramificações). Mesmo se proliferando de forma rápida, os cristãos ainda eram minoria (10% da população romana), mas Constantino (317-340 d.C.), imperador romano, viu no Cristianismo uma oportunidade de integrar o império. E num ato de estratégia política, ele resolve torna o Cristianismo a religião oficial de Roma (mas sem abandonar muitas das datas de festas pagãs).

Como o Cristianismo era muito ramificado, havia a necessidade de criar regras, doutrinas que padronizassem este “novo” credo. Um aspecto importante desse processo de unificação do Cristianismo sob a forma de uma instituição, era ter um livro que fosse organizado e “coerente” que explicitasse as doutrinas e as verdades cristãs. Para resolver esse e outros problemas de cunho teológico (e político não esqueça disso), aconteceu no ano de 325 d.C. o Concílio de Nicéia.

300 senhores decidindo o que fica e o que sai

Neste concílio reuniram-se 300 bispos para desenvolverem o escopo doutrinal e teológico do Cristianismo. Uma das decisões que foram tomadas neste encontro, foi quais livros seriam considerados divinamente inspirados e quais não. Esta escolha foi feitas por homens que escolheram os livros de acordo com seus padrões. Não houve nenhuma interferência divina na escolha. Leia este absurdo:

“O bispo de Lyon, Irineu, explica os pitorescos critérios utilizados na escolha dos quatro evangelhos (reparem na fragilidade dos argumentos…): ‘O evangelho é a coluna da Igreja, a Igreja está espalhada por todo o mundo, o mundo tem quatro regiões, e convém, portanto, que haja também quatro evangelhos. O evangelho é o sopro do vento divino da vida para os homens, e, pois, como há quatro ventos cardiais, daí a necessidade de quatro evangelhos. (…) O Verbo criador do Universo reina e brilha sobre os querubins, os querubins têm quatro formas, eis porque o Verbo nos obsequiou com quatro evangelhos’” (Roberto C. P. Júnior).

De evangelhos existem 60 hoje, como os de Pedro, Tomé, Felipe, Tiago, dos Nazarenos, e tantos outros. Mas no início do Cristianismo existiam mais de 315, número que reduziu para 4 no Concílio de Nicéia. Os evangelhos apócrifos (que não foram inspirados pelo Espírito Santo) que não foram escolhidos para fazer parte do novo testamento, na sua maioria, foram queimados, esquecidos ou proibidos de serem lidos. Os 27 livros do novo testamento são do século IV.

Contradições e Modificações

Bom, “resolvido” a questão da multiplicidade de textos, começa-se então a propagação do que foi escolhido como inspirado (que você viu que de inspirado não tinham nada).  Essa propagação foi muito intensa na Idade Média com os monges copistas dedicando suas existências para os escritos da bíblia. Eles passavam dias inteiros transcrevendo textos enormes (imagine escrever a bíblia toda a mão!). Os erros acidentais eram inevitáveis, mas alguns (muitos) desses “erros” não foram (nem de longe) acidentais. Foram modificações propositais.

Basta você pegar sua bíblia e abrir no novo testamento e começar a ler. Discrepâncias irão surgir de todos os lados. Vou mostrar alguns desses crassos erros que há em determinados trechos das Escrituras:

Para onde foi Jesus depois que nasceu?

Segundo o evangelho de Mateus (2:13,14), a família de Jesus fugiu para o Egito. Mas para Lucas (2:39) o caminho foi outro. Jesus e sua família foram para Belém, cumpriram os ritos de purificação e voltaram para Nazaré, e não deram nenhuma passadinha no Egito (nem para dar uma olhada nas pirâmides).

Qual foi o dia em que Jesus foi crucificado?

Em Marcos (14:12; 15:25) Jesus foi crucificado depois ceia pascoal. Enquanto que para João (19:14 vide: Nova Tradução Na Linguagem de Hoje – NTLH, da SBB) isso aconteceu na véspera da ceia.
Mais:

Em Marcos (2:23-36*) há uma referência a um episódio que está relatado no livro de I Samuel (21:1-6). Quando você ler o texto de Samuel (espero que você o faça), o erro de Marcos fica patente. O evangelista põe na boca de Jesus o nome errado do sumo sacerdote, que não é Abiatar, mas seu pai Aimeleque (ou Aquimeleque, segundo a bíblia da CNBB).
Depois de sua “conversão”, para onde Paulo foi?

Paulo teve um “encontro” com Jesus a caminho da cidade de Damasco e segundo Atos dos Apóstolos (9:26,27) depois disso foi para Jerusalém. Será? Vamos perguntar para o próprio Paulo: onde você foi rapaz? Olhe a resposta aqui: Gálatas (1:16-20). Neste texto, Paulo fala que ele foi primeiro em Damasco e só DEPOIS DE 3 ANOS que foi a Jerusalém e encontrou-se com Tiago e não com Barnabé como está em Atos. No versículo 20 Paulo diz que não está mentindo. Quem está então?

Os Copistas e as Modificações

Alguns copistas não apenas transcreviam os textos, mas lhes faziam acréscimos. Em outros casos, eles colocavam comentários sobre os textos escritos na borda folha, e outros copistas que pegavam aquela cópia para reproduzi-la, acrescentavam o comentário no corpo do texto como se ele sempre tivesse pertencido a ele.

Copistas medievais: modificadores das escrituras

Veja algumas modificações propositais feitas na bíblia e que estão até hoje na bíblia:

A história que está relatada em João (8:1-11) é, comprovadamente, um acréscimo feito por algum copista. Esta história, segundo alguns pesquisadores, fazia parte de uma tradição oral sobre Jesus. Sabe-se que essa história é um acréscimo por algumas provas cabais, tais quais: nos mais antigos e conservados exemplares deste evangelho, esta passagem não existe. Há outras versões deste evangelho que os copistas colocaram esta passagem não depois de João 7:52 (pois o versículo 53 sequer existe) e sim depois de João 21:25 e há ainda outros que colocam a história depois de Lucas 21:28.
Os 12 últimos versos de Marcos não existem nas cópias mais antigas. É um acréscimo de um copista que deve ter julgado que o final abrupto suscitaria perguntas incômodas.
Curiosidade:

Muitas das cartas “paulinas” sequer foram escritas por Paulo. Muitos de seus seguidores escreviam e atribuíram a autoria a Paulo, pois ele era uma autoridade na igreja cristã primitiva. Por exemplo, a carta aos Hebreus. Ela não tem nenhuma linha escrita sequer pelo punho de Paulo, mas foi atribuída a ele e isso se convencionou pela tradição, e todos (os menos esclarecidos) falam desta epístola como se ela tivesse sido REALMENTE escrita por Paulo.

Existem na bíblia inúmeras contradições e incongruências. Em um estudo feito com apenas 100 manuscritos, foram encontrados mais de 30 mil variantes entre eles. Hoje existe uma faixa de 5.700 manuscritos do novo testamento que foram descobertos e catalogados, que mostram erros tão grosseiros e descarados que confiar nestes escritos é uma alternativa descartada.

A bíblia não é inspirada por Deus. Não foi Deus quem a escreveu. Não. Pergunte-se: se as palavras da Escritura não são dignas de confiança e nem seguras, o que dizer da fé baseada nelas?

(Para ver mais contradições bíblicas, acesse A Bíblia do Cético Comentada. Leia também o livro que serviu de base para este texto: Bart D. Ehrman – O que Jesus disse? o que Jesus não disse? Quem mudou a bíblia e porque).

Errata:

*Como apontado por um leitor, o capítulo 2 de Marcos vai até o verso 28. Este foi um erro de digitação tardiamente percebido.



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