Já que o negócio é ser politicamente corretíssimo, não vou
perder o trem da história, vou entrar na moda. O Suposto Leitor deve estar aí
se perguntando, Será que ele vai falar de bulling? Homoafetivos? Não, meu
querido Suposto, não se afoba. É muito mais grave a bandeira que decidi
levantar. Trata-se da discriminação monetária. Calma, Suposto, calma, não é de
bolsa família, classe C, D e linhas de pobreza, não.
É o seguinte: é um assunto gravíssimo, em que todos temos
parte, pode acreditar.
Esses dias, olhava eu uma nota de dez reais e não pude
acreditar no que vi. Não era o fato milagroso de ter uma cédula na minha mão
que me espantava. Devia ser dia de pagamento e resolvi verificar se o que eu
percebia na nota de dez também estava na de dois, de cinco, de cinquenta (a de
cem eu não tinha, mas botei no Google e achei). E sim, em todas elas, em toda a
representação da riqueza nacional, estava escrito – e segue escrito:
Deus seja louvado.
Opa, peraí, pensei. Mas logo repensei e voltei pro Google,
pesquisei imagens das novas cédulas brasileiras, na certeza de que esse
equívoco do passado, por certo, tinha sido corrigido, ou melhor, talvez até
fosse o motivo do novo desenho do papel-moeda canarinho.
Como diria um amigo meu que mora no lugar-comum: Ledo
engano.
O erro não foi corrigido.
Lá está: na mão do rico e do pobre, pagando o flanelinha e a
camisa de seda, Suposto Leitor, uma confissão de preconceito: Deus seja
louvado. Calma, calma, calma, igreja, defensores das minorias – sim Deus, é uma
minoria, é só um –, nada, nada mesmo contra Ele, até a favor. Minha questão não
é a presença Dele no meu dinheiro, até porque quem nunca disse graças a deus ao
se deparar com uns pilas, que jogue a primeira pedra. A questão é a seguinte:
por que SÓ ele ali do lado da cifra? Hein, Suposto? Não falei que a bandeira
era pertinente?
(Pausa pra um momento
cívico: já que o negócio é ser politicamente correto, vou pegar a constituição
que é um negócio bem político, e, com tanta lei, só pode estar correta.
Pois ela diz assim:
É vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I – estabelecer cultos
religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou
manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança,
ressalvada, na formada lei, a colaboração de interesse público;)
É aquela conversa do estado laico, que respeita a liberdade
religiosa no melhor politicamente correto style, tão propalada na hora de dizer
que somos um país mágico que respeitas as diferenças, vive em harmonia, patati,
patatá.
Mas daí o sujeito, digamos, islâmico, vai comprar o seu
kibezinho com martelinho de araque, saca o dinheiro da carteira e vê lá Deus
seja louvado? E por que não Alah também? E os budistas? Por mais desapegados
que sejam, vez ou outra os caras tem que pegar um troco pra, sei lá, comprar um
incenso. Por que é que não podem louvar Buda, por exemplo, quando estiverem
segurando seu sagrado dinheirinho? Agora me diga, se os irmãos rastafári também
não tem o direito de louvar Jah, na hora em que derem aquele cinco pila pra
comprar outra peça de louvor.
É grave isso, não?
Um dos objetos mais cultuados da nossa sociedade laica e tal
não respeita a liberdade religiosa? Ah, não pode ser assim. Proponho que
comecemos a discutir o preconceito monetário, ou melhor, que busquemos já
igualdade Real. É muito simples. Olha a minha ideia: ali no dinheiro, onde diz
Deus seja louvado, coloque-se novo texto: Alah, Aton, Brahman, Buda, Deus, Jah,
Jeová, Khrishna, Nam, Olorum, Ré, Tupã, Zeus seja louvado, se acaso você quiser
louvar alguém. E, se você for ateu (é seu direito), louvado seja você que
ganhou seu dinheiro.
Esse é o nosso atual rico dinheirinho:
Que pode seguir rico, mas justo.
(clica neles pra aumentar) |
Creio que assim estaríamos promovendo uma sociedade mais
justa, igualitária, menos propensa a acirramentos e mais aberta ao diálogo,
livre de tensões, angústias, dúvidas, questionamentos, piadas, humor e todo e
qualquer tipo de emoção desnecessária para o avanço sereno da humanidade. Estou
fazendo minha parte.
Tirei DAKIÓ: Por causa dos elefantes
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