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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Que seja louvado você também!


Já que o negócio é ser politicamente corretíssimo, não vou perder o trem da história, vou entrar na moda. O Suposto Leitor deve estar aí se perguntando, Será que ele vai falar de bulling? Homoafetivos? Não, meu querido Suposto, não se afoba. É muito mais grave a bandeira que decidi levantar. Trata-se da discriminação monetária. Calma, Suposto, calma, não é de bolsa família, classe C, D e linhas de pobreza, não.

É o seguinte: é um assunto gravíssimo, em que todos temos parte, pode acreditar.

Esses dias, olhava eu uma nota de dez reais e não pude acreditar no que vi. Não era o fato milagroso de ter uma cédula na minha mão que me espantava. Devia ser dia de pagamento e resolvi verificar se o que eu percebia na nota de dez também estava na de dois, de cinco, de cinquenta (a de cem eu não tinha, mas botei no Google e achei). E sim, em todas elas, em toda a representação da riqueza nacional, estava escrito – e segue escrito:

Deus seja louvado.

Opa, peraí, pensei. Mas logo repensei e voltei pro Google, pesquisei imagens das novas cédulas brasileiras, na certeza de que esse equívoco do passado, por certo, tinha sido corrigido, ou melhor, talvez até fosse o motivo do novo desenho do papel-moeda canarinho.

Como diria um amigo meu que mora no lugar-comum: Ledo engano.

O erro não foi corrigido.

Lá está: na mão do rico e do pobre, pagando o flanelinha e a camisa de seda, Suposto Leitor, uma confissão de preconceito: Deus seja louvado. Calma, calma, calma, igreja, defensores das minorias – sim Deus, é uma minoria, é só um –, nada, nada mesmo contra Ele, até a favor. Minha questão não é a presença Dele no meu dinheiro, até porque quem nunca disse graças a deus ao se deparar com uns pilas, que jogue a primeira pedra. A questão é a seguinte: por que SÓ ele ali do lado da cifra? Hein, Suposto? Não falei que a bandeira era pertinente?

(Pausa pra um momento cívico: já que o negócio é ser politicamente correto, vou pegar a constituição que é um negócio bem político, e, com tanta lei, só pode estar correta.

Pois ela diz assim:

É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na formada lei, a colaboração de interesse público;)

É aquela conversa do estado laico, que respeita a liberdade religiosa no melhor politicamente correto style, tão propalada na hora de dizer que somos um país mágico que respeitas as diferenças, vive em harmonia, patati, patatá.

Mas daí o sujeito, digamos, islâmico, vai comprar o seu kibezinho com martelinho de araque, saca o dinheiro da carteira e vê lá Deus seja louvado? E por que não Alah também? E os budistas? Por mais desapegados que sejam, vez ou outra os caras tem que pegar um troco pra, sei lá, comprar um incenso. Por que é que não podem louvar Buda, por exemplo, quando estiverem segurando seu sagrado dinheirinho? Agora me diga, se os irmãos rastafári também não tem o direito de louvar Jah, na hora em que derem aquele cinco pila pra comprar outra peça de louvor.

É grave isso, não?

Um dos objetos mais cultuados da nossa sociedade laica e tal não respeita a liberdade religiosa? Ah, não pode ser assim. Proponho que comecemos a discutir o preconceito monetário, ou melhor, que busquemos já igualdade Real. É muito simples. Olha a minha ideia: ali no dinheiro, onde diz Deus seja louvado, coloque-se novo texto: Alah, Aton, Brahman, Buda, Deus, Jah, Jeová, Khrishna, Nam, Olorum, Ré, Tupã, Zeus seja louvado, se acaso você quiser louvar alguém. E, se você for ateu (é seu direito), louvado seja você que ganhou seu dinheiro.

Esse é o nosso atual rico dinheirinho:


Que pode seguir rico, mas justo.

(clica neles pra aumentar)
Creio que assim estaríamos promovendo uma sociedade mais justa, igualitária, menos propensa a acirramentos e mais aberta ao diálogo, livre de tensões, angústias, dúvidas, questionamentos, piadas, humor e todo e qualquer tipo de emoção desnecessária para o avanço sereno da humanidade. Estou fazendo minha parte.

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