Um exemplo!
Quem está a
bordo deste fusquinha é o presidente de um país.
O presidente
do Uruguai, José Mujica, desce de seu Fusca, que vale mil dólares.
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Todos os dias
ele embarca no seu Fusquinha azul de estimação, de 1.300 cilindradas (foto), e
toma o rumo de seu pequeno sítio Rincón del Cerro, nos arredores de Montevidéu,
onde vive com a mulher, senadora da República, que é a proprietária da área. A
casa é discretamente vigiada por dois seguranças.
No fim do mês,
quando recebe o salário de 12,5 mil dólares como presidente do Uruguai, José Pepe
Mujica separa 1,25 mil [para si] e doa o restante, cerca de 90%, a pequenas
empresas e Organizações Não-Governamentais que trabalham com habitações
populares.
Este dinheiro
me basta, e tem que bastar porque há outros uruguaios que vivem com menos,
costuma repetir este uruguaio de maneiras simples, 77 anos, que, em reportagem
do jornal espanhol El Mundo, foi chamado de o presidente mais pobre do mundo.
Além de sua
casa no pequeno sítio, seu único patrimônio é o Fusca avaliado em pouco mais de
mil dólares.
Vida espantosamente simples
Como
transporte oficial, em vez dos carrões com ar-condicionado dos demais
presidentes, ele usa um Corsa. Sua mulher, a senadora Lúcia Topolansky,
parceira de muitos anos, também doa boa parte de seu salário.
O presidente
da República na casa em que vive, no sítio pertencente à mulher (Foto:
estadao.com.br).
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Mujica vive de
forma espantosamente simples, apesar de presidir um dos países mais importantes
da América do Sul, nunca usa gravata (é quase sempre uma camisa branca com casaco)
e convive com os mesmos amigos de antes da eleição que o conduziu ao poder.
É capaz de
pegar o Fusca, ir até uma loja de ferragem comprar um acessório de banheiro e,
no caminho, parar em um pequeno estádio para animar os jogadores do Huracán,
time da segunda divisão, e prometer um churrasco caso subam para a Série A.
Ele não tem dívidas nem conta em banco
Sem contas
bancárias ou dívidas, de acordo com El Mundo, ele apenas repete que espera
concluir seu mandato para um descanso sossegado no Rincón del Cerro.
A vida simples
não é mera figuração ou tentativa de construir uma imagem, seguindo orientações
de um marqueteiro. Não, ela faz parte da própria formação de Mujica, um homem
que lutou contra a ditadura, foi preso e, ao lado de dezenas de [guerrilheiros
e terroristas] Tupamaros, participou de uma fuga cinematográfica da antiga
prisão onde hoje está o Centro Comercial Punta Carretas, em Pocitos, lutou pela
volta da democracia e hoje é presidente eleito do país.
Tudo isso sem
abrir mão de suas convicções, em nenhum momento, a ponto de rejeitar a ideia de
mudança de sua vida por ser o chefe de uma nação. [Mujica, que continua se
considerando um político de esquerda, defende e pratica ideias que em outras
latitudes são desprezadas "neoliberais". Em outubro de 2010, o
presidente concedeu uma entrevista às Páginas Amarelas da revista VEJA em que
expôs suas posições, muito distantes do marxismo que defendia nos tempos de
juventude.
Uma de suas
declarações fala por si: A estatização é uma solução que foi abandonada. Trata-se
de uma receita perfeita para desenvolver uma burocracia opressora. Continuo
sendo socialista porque sou inimigo da exploração do homem pelo homem. Isso não
inclui defender um Estado grande e um funcionalismo público inchado. Seria um
desastre.
Quanto a
querer controlar a imprensa, como ocorre com outros governos supostamente
"progressistas" do continente, o presidente não poderia ser mais
claro:
Quando um
governo se mostra mais tolerante à diversidade, acaba ajudando a formar uma
imprensa respeitosa. Quando radicaliza nas suas políticas, no entanto, vai tudo
“pro diabo”. A melhor lei de imprensa
que existe é a que não existe.
A residência
presidencial já serviu de abrigo a uma moradora de rua e seu filho. O
presidente prefere não morar na mansão (Foto: ultimahoradiario.com.ar)
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No último dia
24 de maio, por ordem de Mujica, uma moradora de rua e seu filho foram
instalados na residência presidencial, que ele não ocupa por seguir morando no
sítio. Ela só saiu de lá quando surgiu vaga em uma instituição.
Neste início
de inverno, a casa e o Palácio Suarez y Reyes, onde só acontecem reuniões de
governo, foram disponibilizadas por Mujica para servir de abrigo a quem não tem
um teto. Em julho do ano passado, decidiu vender a residência de veraneio do
governo, em Punta del Este, por 2,7 milhões de dólares. O banco estatal
República comprou e transformará a casa em local de escritórios e espaço
cultural. Quando ao dinheiro, será inteiramente investido por ordem de Mujica,
claro, na construção de moradias populares, além de financiar uma escola
agrária na própria região do balneário.
Nada de carros blindados
Ele nem se preocupa em reforçar seus esquemas de segurança e, ao circular no Fusca ou em um Corsa, claramente não está a bordo de veículos blindados.
Nem sei se é
certo ou não alguém, no papel de um país, com toda a importância que o cargo
tem e nestes tempos loucos ditados muitas vezes por fanatismo, levar a vida de
uma pessoa comum.
Até acho que
não. Afinal, um presidente não pode conduzir sua própria vida. Há milhões de
pessoas que deram a ele o direito de dirigir um país e esperam não ver nada
abalando esta tarefa e é por isso que de Barack Obama, num extremo, a Dilma
Rousseff, no outro, todos os presidentes são devidamente protegidos por fortes
esquemas de segurança. Ao ser eleito, o escolhido faz uma espécie de renúncia
pública de sua autonomia e sabe que não terá mais tanta liberdade assim.
O que me causa
profunda admiração no caso de Mujica, independentemente das razões destacadas
acima, é ver alguém que se recusa a renunciar a suas próprias convicções, mesmo
desafiando todas as regras do protocolo. Ele pensa nestes princípios, lutou a
vida inteira por eles, arriscou sua segurança e de sua própria família, por que
mudar logo agora?
Foi eleito por
isso, certamente, por suas ideias e estilo de vida. Dane-se a liturgia do
cargo, deve pensar este uruguaio. Para Mujica, ela não tem importância. O que
importa, acima de tudo, é dormir com a consciência tranquila.
O mundo seria
um lugar bem melhor e, com toda a certeza, muito mais pacífico se tivéssemos
outros Mujicas conduzindo países por aí.
Fonte: Blog do Mário Marcos
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