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segunda-feira, 24 de maio de 2010

Chimpanzés também precisam de ajuda quando o assunto é sexo


Estudo indica que os chimpanzés também usam ferramentas para obter vantagens sexuais.

O ego humano nunca foi o mesmo desde o dia, em 1960, em que Jane Goodall observou um chimpanzé banqueteando formigas perto do lago Tanganyika. Após aparar cuidadosamente uma placa de grama, o chimpanzé a inseriu numa passagem no monte de formigas para extrair sua refeição. Os humanos não poderiam mais alegar serem a única espécie produtora de ferramentas.
A novidade foi resumida pelo mentor de Goodal, Louis Leakey: “Agora precisamos redefinir a ferramenta, redefinir o homem, ou aceitar os chimpanzés como humanos”.
Num artigo comemorativo de 50 anos do jornal “Science”, o primatologista William C. McGrew começa louvando a progressão dos estudos com chimpanzés, de notas de campo a uma “etnologia de teste de hipóteses direcionada por teorias”.
Ele espera polidamente até o terceiro parágrafo – jornalistas chamam isso de “enterrar as pistas” – para entregar o golpe mais devastador à auto-estima dos humanos até então. Após apontar que os “kits de ferramentas” dos chimpanzés notoriamente já possuem 20 itens, McGrew menciona casualmente que elas são usadas para “diversas funções na vida cotidiana, incluindo subsistência, sociabilidade, sexo e autopreservação”.
Sexo? Chimpanzés têm ferramentas para sexo? De jeito nenhum. Se alguma vez já existiu um comportamento intrinsecamente humano, seria a produção de brinquedos sexuais.
Considerando tudo o que a evolução fez para tornar o sexo uma segunda natureza, ou talvez uma primeira natureza, eu esperaria que criaturas sem acesso à internet deixassem isso de lado.
Somente o Homo sapiens parecia abençoado com o córtex pré-frontal ocioso, e o ágil e seguro polegar, necessários para inventar parafernálias eróticas. Ou talvez o Homo habilis, o famoso homem hábil de dois milhões de anos atrás, se aqueles ancestrais ficassem entediados com seus empregos na indústria de lascar rochas:
“Lascar, lascar, lascar”.
“A vida tem de ser mais que isso”.
“Ninguém nunca morreu desejando ter tido mais tempo para lascar rochas afiadas”.
“E se pudéssemos fazer uma ferramenta para... algo divertido?”
Não podia imaginar como os chimpanzés haviam chegado a esse salto evolucionário. Além disso, eu não conseguia perceber o que eles estavam realmente fazendo. Usando lâminas de grama para fazer cócegas entre si? Construindo camas de musgo em forma de coração? Usando pedras para massagens, ou videiras para sadomasoquismo, ou – bem, eu realmente não fazia ideia. Então chamei McGrew, que é professor da Universidade de Cambridge.


FERRAMENTA SEXUAL


A ferramenta para sexo, segundo ele, é uma folha. Idealmente uma folha morta, pois ela faz mais barulho quando o chimpanzé a recorta com as mãos ou com a boca.
“Os machos basicamente precisam atrair e manter a atenção das fêmeas”, disse McGrew. “Uma forma de conseguir isso é recortando as folhas. Elas fazem um som áspero. Imagine rasgar um pedaço de papel que está frágil ou seco. O som não é nada espetacular, mas é singular”.
OK, um som singular. E onde entra o sexo?
“O macho arranca uma folha, ou maço de folhas, e senta de forma que a fêmea possa vê-lo. Ele abre as pernas para que a fêmea veja sua ereção, e recorta a folha pedaço por pedaço, deixando cair os pedaços conforme os retira. Algumas vezes ele recorta meia dúzia de folhas até ela perceber”.
E depois?
“Presumivelmente, ela vê a ereção e liga os pontos. Se estiver interessada, ela geralmente se aproxima e apresenta seu traseiro; em seguida, eles acasalam”.
Minha primeira reação, como um humano chauvinista, foi considerar a tecnologia como risivelmente primitiva – até bruta demais para se caracterizar como uma ferramenta sexual adequada. McGrew, entretanto, afirmou que ela corresponde à definição de ferramenta por antropólogos: “Ele está usando um objeto portátil para conseguir um objetivo. Neste caso, o objetivo não é alimento, mas o acasalamento”.
Colocado dessa maneira, você pode enxergar esse chimpanzé como o equivalente a um humano (usando calças, espera-se) que tenta atrair mulheres ao dirigir seu carro com um som de 120 decibéis. Mas até os pesquisadores encontrarem uma mulher que admita se interessar por rapazes em carros ensurdecedores, essas ferramentas humanas devem ser consideradas becos sem saída evolucionários.
Por outro lado, os chimpanzés das folhas parecem mais avançados, praticamente encantadores. Contudo, seria mais justo comparar a folha rasgada com a ferramenta sexual mais popular dos humanos, que hoje podemos identificar graças à pesquisa acadêmica descrita no ano passado por meu colega Michael Winerip.
Os pesquisadores descobriram que o vibrador, considerado tabu há algumas décadas, havia se tornado uma das ferramentas mais comuns nas residências dos Estados Unidos. Pouco mais da metade de todas as mulheres, e quase metade dos homens, relataram já ter usado um – e eles não estavam trocando massagens platônicas.
O recorte de folhas, enquanto isso, permaneceu como um fetiche local entre chimpanzés. A estratégia sexual foi observada numa colônia na Tanzânia, mas não na maioria dos outros grupos. Não houve nada comparável à evolução observada em distribuidores de ferramentas sexuais humanas: de lojas para adultos e cadeias de butiques com nomes graciosos (Arca do Prazer, Boas Vibrações) a comerciantes em massa, como CVS e Walmart.
Vamos, conforme sugestão de Louis Leakey, salvar alguma dignidade ao redefinir a humanidade. Podemos não ser a única espécie criadora de ferramentas, mas nenhuma outra possui nosso talento para a comercialização. Reinamos supremos, verdadeiramente sem rivais, como a única espécie do planeta que é varejista de ferramentas.
Mas veremos por quanto tempo conseguiremos manter esse título.

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